A traição, segundo o russo Kirill

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Por Redação
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Yzmena (Betrayl) é um estranho filme russo, dirigido por Kirill Serebrennikov. Vamos chamá-lo por seu nome, Traição, porque é dela que se trata, desse que é um dos mais antigos e recorrentes assuntos do cinema, desde que ele surgiu. Em meio a essa, digamos assim, banalidade, Kirill tenta ser original.Eis como: um homem e uma mulher descobrem que estão sendo traídos e seus respectivos cônjuges estão tendo um caso. Esse argumento, nem tanto diferente assim, é conduzido, no entanto, com uma pegada cheia de personalidade própria. É verdade que, mais próximo do fim, algumas situações se repetem um pouco, no todo, ele é bem imprevisível.Sobretudo porque, mesmo no paroxismo do sofrimento, causado pelo ciúme, Kirill usa o recurso da ironia, o que ao mesmo tempo causa um certo distanciamento e uma possibilidade de compreensão expandida, que vão além do registro puro da dor. Ou do prazer.O próprio Kirill, em pessoa, se esforça em parecer original. Quando lhe pergunta, se vê reflexos Dostoievski em seu filme, ele responde que respeita, porém detesta o escritor de Os Irmãos Karamazov e Crime e Castigo. "O homem russo não é m personagem de Dostoievski", diz. "Talvez eu seja mais influenciado por Gogol do que põe ele."Mesmo aproximações com cineastas não o agradam. Falou-se em Veneza no parentesco de Traição com algumas obras de Hitchcock, David Lynch ou Antonioni. Apenas uma confissão: o amor a Bergman. "Vi filmes como Fanny e Alexander e Gritos e Sussurros, e eles mudaram minha vida", conta.Sente-se pouco, no entanto, uma das grandes virtudes de Bergman, que é o aprofundamento sensível do personagem. Em que pesem seus méritos, Traição mostra certa frieza que, se não compromete, ao menos relativiza seu impacto sobre o espectador. / L.Z.O.

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