PUBLICIDADE

"A Terceiram Margem do Rio" estréia em SP

Bem sucedida adaptação para o teatro da obra de Guimarães Rosa entra em cartaz no Sesc Vila Mariana, com direção de Henrique Rodovalho

Por Agencia Estado
Atualização:

Transposições de contos ou romances para o palco dificilmente resultam bem. Na maioria das vezes perde-se o sabor e a qualidade da narrativa literária sem que se consiga uma equivalente contrapartida dramática. O espetáculo goiano A Terceira Margem do Rio, uma recriação do conto homônimo de Guimarães Rosa, é uma dessas raras e felizes transposições, cujo resultado cênico é puro encantamento. Primeira direção teatral de Henrique Rodovalho, coréografo e diretor da Quasar Companhia de Dança, com interpretação do ator Guido Campos Correa, o espetáculo - que leva o texto de Guimarães na íntegra para o palco - foi criado em 1995, em Goiás, excursionou pelo sertão do País, participou de vários festivais de artes cênicas de cidades como Salvador, Recife, Curitiba e São José do Rio Preto e foi apresentado ainda em Lisboa, Costa Rica e na Itália. Em São Paulo, serão apenas duas sessões, sábado e domingo, no Sesc Vila Mariana, integrando a programação do evento Palco em Cena. "Há 15 anos eu sonho em apresentar esse trabalho em São Paulo", diz Guido. "Felizmente, o Sesc patrocinou as apresentações com o cenário completo, o que nem sempre ocorre, e vou fazer tudo para que esta oportunidade funcione como um cartão de visitas para uma futura temporada." Solidão - O cenário criado por Shell Júnior - uma rampa inclinada de três metros de altura - tem uma importante função dramática na peça, inteiramente ambientada na barranca de um rio. A história é narrada do ponto de vista de um menino. Tudo começa quando seu pai constrói uma canoa e abandona mulher e filhos para viver dentro do rio. O menino torna-se homem e envelhece sempre à espreita do pai, às margens do rio. "É uma história de amor e solidão e o personagem passa por vários estados psíquicos", diz Guido. O garoto a um só tempo tenta entender a atitude do pai e revolta-se contra ele; sente-se seduzido por aquela vida e a teme. "A rampa tem uma inclinação muito acentuada e obriga o ator a estar projetado para a frente, para essa imaginária margem do rio", explica Rodovalho. "Cada gesto dele para a frente - e para baixo - parece muito grande, ao passo que para trás parece pequeno e isso traduz, naturalmente, o conflito do personagem, sempre a um passo de cair nesse rio, e sempre resistindo", argumenta. Rodovalho, que só havia feito teatro amador antes de ser conquistado pela dança, também resistiu à idéia de levar o conto ao palco. "Eu não tinha lido a história antes do convite de Guido e fiquei fascinado pelo universo de Rosa." Por isso mesmo hesitou em levá-lo ao palco. "É uma literatura muito peculiar e tinha a sensação de que ficaria sempre devendo." Até assistir ao filme de Nélson Pereira dos Santos, baseado no mesmo conto. O cineasta torna presente a figura do pai e Rodovalho teve a certeza da importância dessa ausência. "Esse pai está dentro de cada um, não poderia, para mim, ser personificado." Outra certeza do coreógrafo foi a de que seria essencial respeitar cada vírgula do autor. "É fascinante a forma como ele usa as palavras, como as associa." Simplicidade - Foram sete meses de ensaios, durante os quais o universo do conto foi sendo recriado, numa mistura de trechos dramáticos e de narrativa. Soluções simples foram surgindo nos ensaios como, por exemplo, na cena em que o menino vai com toda a família - mãe, cunhado, irmã, está última segurando um nenê nos braços - à margem do rio na tentativa de que o pai visse seu neto recém-nascido. No palco, apenas uma mala com bonecos representando a família, as palavras e, principalmente, o silêncio do ator. O suficiente para a obtenção de um momento de intensa força dramática. Foi também essencial a contribuição do diretor Hamilton José Amorim. "Foi com ele que fiz todo o trabalho de voz", conta Guido. "Henrique fazia comentários sobre a pontuação do texto, a respiração, as nuances e eu e Hamilton íamos buscar isso no texto." Guido reveza-se no papel da mãe, de alguns vizinhos que falam sobre o pai, utiliza objetos para marcar a passagem do tempo. Tudo muito simples. "É uma história contada ao pé do ouvido para o público", afirma Guido. A Terceira Margem do Rio - Inspirado em conto de Guimarães Rosa. Direção de Henrique Rodovalho. Duração: 50 minutos. Sábado, às 21 horas, e domingo, às 19 horas. R$ 10,00. Sesc Vila Mariana. Rua Pelotas, 141, tel. 5080-3000.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.