
07 de dezembro de 2012 | 19h33
Décio enxergou o bicho em seu corpo inteiro: “A TV é um cinema caudaloso e ininterrupto que, ritmado pelos comerciais, se distribui por milhões de receptores, numa linguagem que combina todas as linguagens, numa produção seriada e industrializada da informação e do entretenimento”. Para ele, o embaralhamento das linguagens era tamanho - a linguagem literária se misturava com a linguagem do teatro, depois com a linguagem do cinema, com a mímica etc etc etc - que não se poderia falar em uma única linguagem na televisão. “O signo-sintagma televisual é um complexo intersigno.” Preferia, então, falar em “signagem”. No tubo de raios catódicos ele via uma cascata de signos na velocidade da luz, combinando-se e recombinando-se. Via e fazia a festa crítica em seus textos cortantes. Décio derrubou, ao menos em parte, o preconceito que marginalizava a TV, impedindo que ela entrasse nas universidades, na pauta do jornalismo dito sério, na cabeça dos quatrocentões e na agenda dos militantes de esquerda.
É bom reler o que ele escreveu. É muito atual. Mesmo hoje, quando todos os quatrocentões, todos os professores universitários, todos os jornalistas e todos os militantes de esquerda dão a alma para aparecer na TV ao lado do Ratinho, Décio continua vendo mais do que muitos de nós.
Eugênio Bucci é jornalista, professor da Eca-USP e da ESPM; escreve quinzenalmente na página 2 do Estado
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