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A sinfonia dos dez mil dólares

Assim ficou conhecida obra do sueco Kurt Atterberg, que ganha nova versão pelas mãos de Neemi Järvi

Por JOÃO MARCOS COELHO
Atualização:

NEEME JÄRVI

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Há algumas semanas Andrew Mellor, editor de resenhas de discos da revista inglesa Gramophone, comentou em blog da revista que bom seria se as orquestras inglesas tocassem os repertórios alternativos e diferentes que as gravadoras têm lançado. "Música nórdica para as orquestras é no máximo um Sibelius, e olhe lá." Lembrou que música espanhola remete irremediavelmente ao Chapéu de Três Bicos e a uma ou outra peça de Granados, ou, no máximo, à Sinfonia Espanhola de Lalo. "Música sul-americana", cutuca, "remete a… esqueça, as orquestras britânicas nunca tocam música sul-americana. Bem, deveriam; caso se preocupassem em surpreender o público com repertórios mais interessantes, talvez este respondesse com mais lealdade e imaginação."

Mellor não sabe que nossas orquestras historicamente reforçam este desconhecimento, pois limitam-se a divulgar o nacionalismo de Villa-Lobos ou então o neonacionalismo sinfônico bossa nova anos 60/70. A propósito, ele elogia o maestro estoniano Neemi Järvi por sua prodigiosa imaginação nos repertórios que apresenta em concerto e grava. A mais recente descoberta de Järvi é o compositor sueco Kurt Atterberg. Nasceu em Gotemburgo em 1887 e morreu em 1974. Escreveu seis óperas, nove sinfonias e cinco concertos variados. Järvi rege sua sexta sinfonia, à frente da Orquestra de Gotemburgo.

Como é bom descobrir novos compositores. Gostei do que ouvi. É um wagneriano de carteirinha, mas nada contra. Sua sexta sinfonia, que soa muito bem, tem uma história curiosa. Foi apelidada de "Dollar Symphony". Ficou famosa na primeira metade do século 20 porque com ela o sueco ganhou um concurso no centenário de morte de Schubert, em 1928. A Columbia usou uma estratégia de marketing para assinalar o início da gravação das sinfonias de Schubert, um projeto superambicioso para os bolachões 78 rotações que acomodavam até 4 minutos de música de cada lado. Convocou compositores do mundo inteiro para completarem a... Sinfonia Inacabada. A opinião pública caiu de pau na gravadora, e ela mudou o mote para "uma composição sinfônica entendida como uma apoteose ao gênio lírico de Schubert e dedicada à sua memória".

Atterberg conquistou o primeiro lugar diante um júri conservador. Em dinheiro, o prêmio significou US$ 10 mil, fortuna para a época. Daí o apelido. Toscanini a gravou e o próprio Atterberg também, com a Filarmônica de Berlim. No adagio, ele tenta sem sucesso aproximar-se do universo schubertiano, mas se dá melhor no Moderato inicial e no Vivace final, onde solta a imaginação.

ATTERBERG: SINFONIAS

Chandos, US$ 10 (download)

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