A saga ‘West Side Story’ ao longo do tempo

Desde a estreia em 1957, o ‘NY Times’ acompanha a evolução do clássico, do elenco e política até seu papel na guerra fria

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Por Jennifer Schuessler e NYT
Atualização:

Desde o anúncio, o novo revival de Amor, Sublime Amor (West Side Story), dirigido por Ivo van Hove, despertou curiosidade: quão radical seria a atualização do clássico? Mas o original – com sua exuberante trilha sonora de Leonard Bernstein, a coreografia de Jerome Robbins e as letras do então pouco conhecido Stephen Sondheim – foi saudado como surpreendentemente novo quase desde sua estreia, em 26 de setembro de 1957. “Tudo em Amor, Sublime Amor está no mesmo nível”, escreveu Brooks Atkinson, do New York Times, sobre a história de Romeu e Julieta recontada no contexto de conflitos entre gangues. “Tudo contribui para a sensação total de êxtase e angústia.”

Encenação de West Side Storyem Nova York, fevereiro de 2009 Foto: Sara Krulwich/The New York Times

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Nos anos seguintes, o NY Times acompanhou o musical quando ele foi do palco para a tela e regressou, tocando na política da escolha do elenco; no seu valor como propaganda da guerra fria; e na sua relação com uma cidade em evolução cujos ritmos e problemas pretendia capturar. Com a nova reapresentação do espetáculo em fase de pré-estreias e agendado para ser lançado no próximo mês no Broadway Theatre, aqui estão algumas histórias que o Times contou sobre o show ao longo dos anos.

O musical foi mencionado pela primeira vez no The NY Times em 1956 e seus leitores o viram pela primeira vez em 8 de setembro de 1957. Poucos dias antes da estreia, o Times relatou que os criadores haviam realizado “uma das maratonas de seleção de elenco mais notáveis do teatro moderno”, uma espécie de “arrastão” de oito meses, de costa a costa. Por fim, eles selecionaram apenas profissionais, incluindo Carol Lawrence, que chegou “muito maquiada e com joias, tentando criar a impressão de uma Julieta de Porto Rico”, relatou o Times. “Disse a ela para ir para casa, tomar um banho e voltar”, informou Robbins, que dirigiu o espetáculo. 

Houve audições no East Harlem, mas além de Chita Rivera (que interpretou Anita), apenas um porto-riquenho foi escalado – Jamie Sanchez, de 18 anos, que interpretou Chino, um dos “sharks”. A crítica de Atkinson chamou o musical de “profundamente comovente, tão feio quanto as selvas urbanas e também patético, terno e complacente”. Mesmo antes da estreia, alguns porto-riquenhos reclamaram, especialmente, da letra da música América, que rimava “ilha de brisas tropicais” com “ilha de doenças tropicais”. No artigo Fatos Não Rimam, o Dr. Howard A. Rusk, colunista médico do jornal, chamou a frase de “um golpe abaixo da cintura”. De fato, ele escreveu, “Porto Rico reduziu drasticamente a incidência de malária, cólera e febre amarela e não apresentava problemas significativos de doenças relacionadas ao clima tropical”. “Na cidade de Nova York, bem que poderíamos encontrar medidas eficazes para controlar nosso flagelo social da delinquência juvenil”, acrescentou. 

Em abril de 1959, o Times registrou alguns “dançarinos folclóricos do Bolshoi” em turnê. Os muitos esforços para incluir o programa como divulgação cultural da guerra fria – ou propaganda – fracassaram. Para fazer o seu West Side Story, os russos, ao que parece, não esperaram permissão. Em dezembro, o New York Times publicava texto da UPI informando que pretendiam realizar a própria versão não autorizada, deixando de fora a maior parte da música e da dança “para enfatizar o tema do conflito racial”. O filme de 1961 recebeu ótimas críticas. Um ano depois, o Times reportou a bem-sucedida campanha de Nixon para ganhar royalties pela trilha sonora. Bernstein concordou e lhe deu uma pequena porcentagem de seus royalties. Em 1980, a Broadway ganhou sua primeira Maria porto-riquenha quando Josie de Guzman assumiu o papel em uma reapresentação no Teatro Minskoff.  

Em 1957, a representação de violência de gangues chocou os críticos. O revival de 1980 chegou mais perto da realidade social. “Hoje, é difícil imaginar que, em 1980, meus pais achavam o programa muito adulto”, afirmou Frank Rich, do The Times.

O espetáculo de 2009, dirigido por Arthur Laurents, foi a último a ser liderado por um membro da equipe criativa original. Em entrevista ao The NY Times, Laurents, aos 91 anos chamou o revival de 1980 de Robbins de insípido e sobre o filme resumiu: “Sotaques falsos, dialetos falsos, figurinos falsos”.

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Entre os tópicos mais tentadores de Amor, Sublime Amor, o folclore surgiu não no Times, mas em uma entrevista que Laurents deu ao The Hartford Courant pouco antes de sua morte em 2011, na qual ele abordou rumores de que a Disney havia proposto uma vez uma versão animada de Amor, Sublime Amor com ... gatos? “Tenho um rolo de sete minutos que eles fizeram com gatos brancos e pretos”, disse. “Lembro que a gata Maria desceu ilegalmente a corda de um navio a vapor no país. No final, lembro que o gato Tony foi atropelado. Você não consegue acreditar no quão terrível foi.” / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

São Paulo terá versão operística do musical

Charles Möeller e Cláudio Botelho serão os diretores artísticos da montagem operística de West Side Story, prevista para estrear em 6 de abril, no Teatro São Pedro, em São Paulo. A direção musical será de Cláudio Cruz, que transita bem entre o erudito e o popular, essencial para o espetáculo criado por Leonard Bernstein.

Um dos maiores musicais de todos os tempos, West Side Story é uma versão moderna de Romeu e Julieta, metáfora sobre a ameaça que os imigrantes significam a um país rico, a eterna briga pela conquista do território.

Quando foi montado, em 1957, surpreendeu ainda por apresentar uma ação que passava para a dança de forma natural, como se a coreografia fosse extensão dos movimentos dos atores. No Brasil, houve uma montagem dirigida por Jorge Takla, em 2008, estrelada por Fred Silveira e Bianca Tadini. / UBIRATAN BRASIL​

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