A rotina na vida de quatro bebês

Documentário francês acompanha recém-nascidos, nos EUA e no Japão

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

François Ozon vale-se de um bebê especial - e você precisa assistir a Ricky para ver o que há de especial com ele - para tratar dos temas que o cinéfilo reconhece como associados a seu nome (ou a seu cinema). É difícil falar num estilo de Ozon, porque, como ele próprio diz, muda de filme para filme, adaptando-se às condições das histórias que quer contar. A de Ricky abre-se para a fantasia, justamente pelas características do bebê, mas os temas permanecem os mesmos - família, relações amorosas, perda e luto, não necessariamente recorrentes da morte.Thomas Balmès, outro cineasta francês, multiplica Ricky por quatro e, no seu documentário Bebês, conta a história de não um, mas quatro recém-nascidos. Ele começa justamente pelos partos. O filme, produzido por Alain Chabat, da série Asterix, investe na diversidade cultural. Os bebês foram escolhidos em diferentes pontos do mundo, dois meninos e duas meninas. Elas pertencem ao mundo chamado desenvolvido, os EUA e o Japão. Eles nascem em comunidades primitivas da Namíbia e da Mongólia.Veja também:Trailer de 'Bebês'As diferenças já estão definidas desde o nascimento. As garotas norte-americana e japonesa estão inseridas em sociedades que apostam na tecnologia de ponta e isso já vale desde o hospital. A japonesinha passa por uma assepsia completa e, cada vez vai mamar, há toda uma operação complexa para sucção e esterilização do leite. O garotinho da Namíbia participa da vida comunitária da sua cultura. Um bebê africano é filho de todas as mães da tribo. A que estiver mais próxima lhe dará o peito, se ele estiver chorando de fome. O bebê mongol vive não em comunidade, numa tribo, mas na fazenda dos pais, que trabalham com animais. Ele fica muito tempo sozinho, ou com o irmão.Numa cena em que não falta tensão, o irmão mais velho arrasta seu berço para o campo e ele se vê no meio dos animais - justamente por medo deles, do seu tamanho, da sua força, a mãe o amarra dentro de casa. Não vai nisso nenhuma crueldade, como também não há horror quando o bebê da Namíbia põe na boca terra ou outros dejetos. O diretor pode estar criticando as condições em que cada um vive, mas a extrema assepsia talvez lhe pareça mais perigosa - o bebê cresce sem anticorpos - do que ao deus-dará.Não há narrador nem diálogos explicativos. Balmès mostra. Seu olhar não é científico. É poético - encanta-o a fofura dos bebês. Poderia ser mais denso, profundo? Sim. No final, fica meio que uma interrogação. Bebês versa sobre o quê? Cabe a você recriar o filme no inconsciente, elaborar um discurso (um texto). É um filme sobre a diferença, sem dúvida. Sobre a maternidade, sobre a família. Independentemente de como se criam, esses bebês são amados por suas mães. Bebês poderia ser um capítulo de Um Dia na Vida, o documentário de Paul Greengrass que integrou a programação do É Tudo Verdade. Poderia integrar a série iniciada por 35Up, de Michael Apted, que acompanhou um grupo de crianças de sete em sete anos. Daqui a sete anos, ou qualquer outro prazo fixado pelo diretor, bem que gostaríamos de saber como andam esses bebês.RickyO filme de François Ozon, em cartaz em São Paulo, também trata da maternidade e da infância, mas sob um olhar mágico, carregado de efeitos especiais e de bom humorBEBÊSTítulo original: BébésDireção: Thomas BalmésGênero: documentárioProdução: França, 2010Duração: 80 minutosEm exibição no circuito comercial

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