A poesia de gregório de matos

A produção do autor baiano, redescoberta no século 19, inspirou análise centrada em sua faceta lírica e na busca da verdade espiritual

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Por Redação
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17.6.1961O problema Gregorio de Matos apresenta, ainda hoje, algumas insolvencias de cunho historico e filologico. Pequena parte delas tentei resolver num trabalho, que aguarda publicação. E, independente disso, tenho a impressão que é possivel emitir, a respeito do valor intrinseco de sua poesia, um juizo mais proximo da realidade.Explico: ou pelo fato de sua obra permanecer tipograficamente inedita (pois correu em apógrafos, grande maioria dos quais do seculo XVIII), ou por modificação do gosto do publico, Gregorio de Matos caiu numa especie de ostracismo, até os primordios do seculo XIX, quando principia a voltar à tona, como decorrencia do esforço romantico de encontrar, no passado, a esteira de uma literatura marcada de brasilidade, implicita ou explicitamente antilusitana, fato que, de uma forma ou de outra, acabou por conduzir à valorização do Poeta como satirico. E é mais ou menos sempre encarada desse angulo que sua obra atravessa tanto as antologias literarias de Varnhagen, Januario da Cunha Barbosa, Melo Morais Filho, até a edição Vale Cabral das Sátiras (1881), bem como os repositorios bibliograficos luso-brasileiros da epoca (Costa e Silva, Inocencio, Macedo) - angulo que também se reflete nos estudos criticos do Realismo (os de Araripe Junior, Silvio Romero e José Verissimo).Depois de 1923, quando o incansavel Afranio Peixoto editou a volumosa produção do Poeta (1923-1933), houve uma natural triagem critica, que chegou a duas posições dominantes: a daqueles que viam no Poeta ainda o merito maior do satirico, e a de outros, que o encaravam com algumas reservas, acoimando seus poemas de plagios de Quevedo e Camões, especialmente. (...).Se as linhas mestras das Composições Metricas de Gregorio de Matos são as do lirismo e da poesia satirica, e se, de maneira geral, a tendencia tem sido de valorizar a ultima, de outra parte é preciso considerar que o interesse desse tipo de composição dimana do que ele representa de retrato da realidade brasileira (...): a ascensão social do empreiteiro português (o brichote), que vinha ao Brasil fazer fortunas; o retrato da Bahia e de Pernambuco; a realidade lisboeta e coimbrã; o sebastianismo... Mas, se se ponderar que, como criação poetica, as sátiras são, em Gregorio de Matos, formas inferiores de poesia, pela repetição constante dos mesmos motivos e das mesmas "agudezas", pelo tom critico monodico, pela incidencia em uma imagetica quase sempre a mesma, que não prima nem por peculiar, nem por original, o que se conclui é muito menos pela existencia de criação poetica, do que pelo iniludivel talento de motejador (no sentido proprio) e de repentista facil, com pouco significado no plano da poesia, ao menos naquele plano em que a sátira alcança ser poesia. (...)

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