A Paris medieval em "O Corcunda de Notre-Dame", entre os lançamentos

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Por Agencia Estado
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E mais: A história da mulher ocidental, desde o início; a versão "Romeu e Julieta" dos presídios cariocas; a lenda de um famoso bandido caipira; uma biografia de Adoniram Barbosa... O CORCUNDA DE VICTOR HUGO, DE ROUPA NOVA, VOLTA ÀS PRATELEIRAS. Em O Corcunda de Notre-Dame, Victor Hugo convida o leitor para uma viagem à Paris medieval, narrando a trágica história da paixão impossível do misterioso padre Cláudio Frollo e do sineiro corcunda Quasímodo pela cigana Esmeralda. A nova edição (Ediouro, 528 páginas, R$ 59,00) que acaba de chegar às livrarias, apresenta o texto na íntegra, sem adaptações, além de inúmeras ilustrações, que fazem com que se vivencie de perto todo o enredo da história. A catedral de Notre-Dame é o centro da aventura, lugar onde os protagonistas vivem grande parte de seu drama. E é nos seus arredores que tudo acontece, as paixões arrebatadoras, os encontros e desencontros, fazendo com que seus destinos se cumpram. Adaptada para o cinema e para o teatro, e transformada em clássico infantil, é considerada um marco na literatura universal, o romance mais famoso do célebre escritor francês Victor Hugo, que conserva seu vigor e importância até os dias de hoje, seja pelo retorno que proporciona à Paris do século XV, pela crítica aos métodos da Inquisição e aos caprichos da nobreza e do clero de então, ou apenas pela maneira como o autor narra a saga de seus personagens. UMA COISA RARA, MUITO RARA NO BRASIL: UM ROMANCE NA 25ª. EDIÇÃO. Um relançamento: Os Corumbas, livro de estréia de Amando Fontes, um paulista de Santos, publicado em 1933. O livro, agora em sua 25ª. edição (José Olympio, 240 páginas, R$ 25,00), com capa e projeto gráfico novo, o livro foi considerado pelos críticos da época como um romance sobre o proletariado, abrindo um novo caminho na literatura de ficção brasileira. Abaixo trecho da resenha do crítico João Ribeiro, publicada em 1933 no Jornal de Brasil. "Os Corumbas é um romance do proletário infeliz e desesperançado, vivendo entre ilusões e desenganos. Uma família pobre, a dos Corumbas, emigra de uma cidade do interior do Sergipe para a capital Aracaju, onde encontrará trabalho e onde os pais retirantes esperam colocar os filhos numa das duas fábricas de fiação. Três belas filhas despertam a cupidez daquele meio vicioso e brutalmente sensual. Dessas três meninas, uma de saúde frágil, doente e inútil, sucumbe e desaparece. As outras duas vão ser colhidas em breve pelas depravações do local". UMAS BOAS HISTÓRIAS E ALGUMAS OUTRAS BOAS ESTÓRIAS Um psicanalista, um filósofo e um teólogo. Os três, presentes no mesmo Rubem Alves, estão nas páginas do mesmo livro. Dividido em cinco partes, ele reúne textos que abarcam os principais questionamentos existenciais da humanidade. Nele, anjos, alma, inferno e céu são debatidos sob um enfoque ousado e surpreendente, que desmitifica idéias preconcebidas. Transparências da Eternidade (Editora Verus, 152 páginas, R$ 20,90) é um livro de "histórias e estórias", como o apresenta Rubem Alves. Textos impecáveis, saborosos. Um bom exemplo está em "As promessas", onde o autor defende uma outra forma de presentear Deus que não seja o tradicional oferecimento de algum sacrifício. Escreve ele: "Como exemplo aqui vão algumas das promessas que farei. Vou andar diariamente, sem obrigação de fazer exercício, por algum bosque ou jardim deste universo maravilhoso, por puro prazer... Vou ouvir muita música, canto gregoriano, Bach, Beethoven, Mahler, César Franck. Vou ler o Fernando Pessoa inteiro. Vou aprender a cozinhar. Vou receber os amigos. Vou beber cerveja, vinho, Jack Daniels. Vou brincar com coisas e com pessoas. Que Deus me ajude. E que ele se alegre com minhas promessas". A LONGA VIAGEM DA MULHER OCIDENTAL, DESDE O INÍCIO. Quem será a "esposa" em um casamento gay ou lésbico? Pode o termo "esposa" ter um significado dentro de uma união em que não existam diferenças sexuais entre os parceiros? Ou será que a palavra "esposa" irá sobreviver como uma idéia social e psicológica, implicando qualidades femininas tradicionais, como meiguice, cuidado e emotividade? As respostas para perguntas como essas, e muitas outras,estão em A História da Esposa, de Marilyn Yalom. Um livro importante para que se conheça a realidade da condição da mulher no mundo ocidental, desde as culturas antigas, passando pelos greco-romanos, à Idade Média e chegando aos tempos modernos. A autora, professora de literatura comparada e diretora de um instituto de pesquisas para a mulher, busca os vários significados que ser esposa alcançou ao longo da trajetória humana. A partir de uma análise da situação atual, em que as mulheres, a despeito da participação massiva no mercado de trabalho, do sexo livre e do alto número de divórcios, continuam querendo ser esposas. Marilyn Yalom percorre três mil anos de história, comparando o status da esposa nos primeiros tempos da civilização, no período pré-moderno e, em especial, nos últimos 200 anos. O livro (Ediouro, 488 páginas, R$ 49,90) é também um estudo das leis, das práticas religiosas, dos costumes sociais e dos aspectos econômicos e políticos que afetaram diversas gerações de esposas. UM AMOR ATRÁS DAS GRADES. E QUE ACABA EM TRAGÉDIA. O jornalista Júlio Ludemir passou muitos finais de semana batendo ponto num presídio carioca. Tinha um bom motivo: escrever a história de Valéria e Marquinho - a versão "Romeu e Julieta" dos presídios cariocas. Ela, sobrinha de um chefão do Terceiro Comando. Ele, integrante de primeira hora do Comando Vermelho. Essa é a história de No Coração do Comando (Record, 192 páginas, R$ 25,00), romance de estréia de Ludemir. Valéria e Marquinho viram-se pela primeira vez no Complexo Penitenciário Frei Caneca e logo as facções rivais proibiram o romance. Presos em cadeias vizinhas, os dois ignoraram a proibição. E, apaixonados, protagonizaram durante três anos uma história de amor jamais vivida no interior de uma cadeia. Um amor que só poderia acabar em tragédia, como no clássico de Shakespeare. PRIMEIRO, AS TELAS DE CINEMA. AGORA, AS LIVRARIAS. Um escritor que começou atrás das câmeras. Marcos Fábio Katudjian, autor do romance Snuff Movie ? Depois do Fim do Mundo (Casa Amarela, 350 páginas, R$ 35,00), tornou-se conhecido, primeiro, como autor de um curta-metragem, o Artigo 25. O filme reúne quatro histórias independentes, relacionadas pelo mesmo tema: a culpa. O ano era 1995. Pouco depois, em 1999, Katudjian reapareceu com um média-metragem, Ano Novo. O tema, então, era a procura do destino. Mas na vida de Katudjian, formado em veterinária e com passagens por cursos de engenharia e perícia criminal, o cinema acabou juntando-se à literatura. Snuff movies, o assunto do livro, são filmes pornográficos onde, após as cenas de sexo, um dos atores é realmente torturado e assassinado em cena. Comercializados ilicitamente por grupos marginais, e vendidos a peso de ouro, abastecem a necessidade de uma elite econômica ávida pelo que existe de mais sórdido em termos de perversão humana: a tortura e morte diante das câmeras, com nenhuma outra razão além do mero exercício sádico. Snuff Movie ? Depois do Fim do Mundo, o romance de Katudjian, não trata de algo distante e alheio ao ser humano. Não, o livro alerta-nos para uma realidade inerente à nossa própria condição humana. UMA NOVA BIOGRAFIA DE ADONIRAM BARBOSA, O ITALO-CAIPIRA. O autor é o jornalista Ayrton Mugnaini Jr. A apresentação de Adoniran ? Da Licença de Contar... (Editora 34, 254 páginas, R$ 32,00) coube ao conceituado crítico de música Tárik de Souza. Diz ele do personagem: "Coube a um anti-herói suburbano, figura chapliniana envergando gravatinha borboleta, chapéu de aba quebrada, encarnar a confluência sócio-cultural de caipiras, italianos e malandros (sub)urbanos que moldou o samba paulistano. Usando o pseudônimo de Adoniran Barbosa, o filho de imigrantes de Treviso, norte da Itália, João Rubinato fez o poeta carioca Vinícius de Moraes engolir o vitupério ?São Paulo é o túmulo do samba?, tornando-se seu parceiro quase por acidente no clássico ?Bom Dia, Tristeza?". No livro, Mugnaini Jr., além de arrolar façanhas do paulista Adoniram como a memorável vitória no carnaval rival, o carioca, em 1965 com o petardo atemporal "Trem das Onze", documenta a progressiva valorização do artista, especialmente a partir dos discos gravados pelo produtor J. C. Bottezelli, o Pelão, em 1974 e 1975. Parceiro da poeta Hilda Hilst, celebrado por Tom Zé em "Augusta, Angélica e Consolação" e por um elenco que reuniu de Djavan e Clara Nunes a Elis Regina (sucesso tardio com o anárquico "Tiro ao Álvaro"), Adoniram foi exaltado até pelo ensaísta Antonio Candido. Ele o chamou de mágico, "vindo dos carreadores de café para inventar no plano da arte a permanência da sua cidade e depois fugir, com ela e conosco, para a terra da poesia". A LENDA DE UM FAMOSO BANDIDO CAIPIRA. AGORA EM LIVRO. No começo era apenas uma lenda e, como toda lenda, carregada de mentiras e invenção. A história de Diogo Rocha Figueira, o agrimensor de Botucatu que se tornou matador de aluguel, percorria, com o seu tanto de exageros, o interior de São Paulo. O jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão, por exemplo, lembra que em seu tempo de menino, em Araraquara, Dioguinho era um personagem constante. "Dizia-se tudo a respeito dele. Eram tantas as histórias que se duvidava inclusive que pudesse existir", diz o romancista de Bebel que a Cidade Comeu. "Mas existia. Nos jornais e nas conversas de cadeiras na calçada", completa ele. Pois bem, a história de Diogo Rocha Figueira, primeiro percorreu os cinemas do país. O ator Hélio Souto, recentemente falecido, estrelou um filme chamado Dioguinho. Agora, o bandido caipira está chegando às livrarias. No livro Dioguinho ? O matador de punhos de renda (Casa Amarela, 325 páginas, R$ 36,00). João Garcia, um paulista de Santa Rosa do Viterbo, que também, como Ignácio de Loyola Brandão, conviveu com a lenda na infância, transformou-a em romance. Dioguinho foi lançado pela Casa Amarela, a mesma editora da revista Caros Amigos. Um bandido de punhos de renda? Por quê? Diogo Rocha Figueira, apesar da profissão de matador, era homossexual. Um parente próximo, nesse particular de sua biografia, de João Francisco dos Santos, o negro carioca Madame Satã, que se tornou famoso no bairro da Lapa, e agora também é mostrado nos cinemas. Dioguinho, de bigodes à Joaquim Nabuco, gostava de vestir-se como um dandy. Sempre de ternos escuros. O autor, João Garcia ? aliás, João Garcia Duarte Neto ?, é jornalista de longo percurso, e também ecologista. Atualmente, exerce a direção da EPTV em Ribeirão Preto.

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