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A palhaçada russa

Coreógrafo de espetáculo do Cirque du Soleil, o suíço Daniele Finzi Pasca estreia peça de clowns em homenagem aos 150 anos de Chekhov

Por Maria Eugenia de Menezes
Atualização:

O tempo só fez soar ainda mais estranha a maneira como Chekhov definia suas peças: comédias. Difícil encontrar graça nos sonhos desfeitos de A Gaivota ou nas esperanças goradas de As Três Irmãs. Controvérsias à parte, fato é que o escritor russo sempre repudiou toda a ênfase sentimental na interpretação de suas personagens. E isso talvez ajude a entender a escolha de um clown para criar o espetáculo que abriu as comemorações pelos 150 anos do nascimento do autor na Rússia.

 

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Reconhecido por sua ligação com o circo, o suíço Daniele Finzi Pasca recebeu a incumbência de dar início à edição 2010 do Chekhov International Theatre Festival com a montagem de Donka. Encenada em janeiro deste ano em Moscou, a produção do Teatro Sunil vem agora ao Brasil, onde faz duas escalas. Estreia na quinta em Belo Horizonte, quando participa do FIT - Festival Internacional de Teatro, e chega a São Paulo, a partir do dia 14, para uma temporada de seis sessões no Sesc Pinheiros.

 

 

 

Soleil. Finzi Pasca está acostumado a produções grandiosas. Para o popular Cirque du Soleil, o coreógrafo concebeu Corteo, espetáculo no qual um palhaço imaginava o seu próprio funeral. Em Turim, assinou a cerimônia de encerramento dos jogos olímpicos de inverno. No caso de Donka, que recebe o subtítulo de Uma Carta a Chekhov, tudo ganha outra escala. 

 

 

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Permanecem as acrobacias, o virtuosismo físico dos atores, a cenografia imponente. Entra em jogo, porém, certa aura de sonho e uma tentativa de percorrer um território de sentimentos tipicamente russos, como a nostalgia e a melancolia. "Sempre trato de falar também de onde venho. Então, também fui tratar de encontrar Chekhov nas rosas do jardim onde cresci", diz.

 

A ambição, ressalva o diretor, não é prestar tributo ou render homenagens, e sim conseguir estabelecer algum tipo de interlocução com o autor de Jardim das Cerejeiras. "É uma carta para ele. Para falar sobre como ele me comoveu, como me comoveram algumas coisas da sua vida." Em gestos quase coreografados, oito atores-clowns, de diferentes nacionalidades, buscam resgatar traços que escapam apenas àquilo que aparece nas obras de Chekhov e captam outros aspectos do universo do dramaturgo: a relação com a medicina, a vontade desmedida de conhecer e testemunhar a verdade, o apreço pela pesca.

 

Da Suíça, Pasca falou ao Estado, por telefone. Comentou sobre sua surpresa ao receber o convite para criar Donka - "Sempre achei que era a pessoa errada para fazer isso." Fala da relação com as atrizes brasileiras de sua companhia e explica por que, aqui, a montagem será apresentada, não com legendas, mas em português.

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