Quando a pintora Elizabeth Jobim apresentou a instalação site-specific Endless Line há dois anos, em Nova York, o crítico Benjamin Genocchio, do jornal The New York Times, classificou a obra como uma fusão clássica do abstracionismo geométrico com a sofisticada sintaxe musical de seu pai, o compositor Tom Jobim. Genocchio evocava a linguagem harmônica da bossa nova numa analogia com as combinações alternadas de linhas finas e os volumes das formas geométricas da instalação, não esquecendo de mencionar outros antecedentes da artista, ligando-a à tradição suprematista e ao construtivismo do movimento De Stilj, que consagrou o neoplasticismo de Mondrian.Ecos desse movimento abstrato podem ser ouvidos na sala em que Elizabeth Jobim ampliou o projeto de Endless Line, construindo um gigantesco painel de 50 metros, Em Azul. Nele, não só a ordem de Mondrian, mas o International Klein Blue do neodadaístra Yves Klein ? um azul patenteado pelo artista francês ? e as formas simples do minimalista Ellsworth Kelly estão presentes. Dito isto, talvez seja desnecessário dizer que a pintura da artista carioca exige um olhar erudito para ser mais bem apreciada. É como a bossa nova: parece simples até que o ouvido se deixa levar pela ondulação rítmica e identifica nela a subversão harmônica de Debussy, a delicadeza gregoriana de Fauré, o vocalise de Rachmaninoff, a voz suave de Chet Baker, a herança melódica de Villa-Lobos e o jazz da costa oeste americana ? uma collage como só o gênio de Tom Jobim ousou fazer.Em Azul é um trabalho menos linear que as obras anteriores de Elizabeth Jobim. É uma instalação arquitetônica, que dialoga com as paredes da Estação Pinacoteca. A artista nota que essa pintura ? também por essa característica ? está mais ortogonal, insinuando, como nas telas irregulares do serialismo combinatório de Ellsworth Kelly, uma outra dimensão espacial. Nela, o olho do espectador é submetido a um jogo ilusionista. Trata-se, lembra a pintora, de uma remissão ao espaço arquitetônico dos metafísicos italianos, como De Chirico, que marcou o início de sua carreira. Aluna de Eduardo Sued e Aluísio Carvão, dois dos maiores pintores brasileiros, ela começou como uma pintora gestual. Tudo indicava que o seu seria um caminho expressionista (seus favoritos são Iberê Camargo e Goeldi) até que mudou de direção e seguiu pela trilha dos neoconcretos Willys de Castro e Lygia Clark. As linhas finas e mais densas da obra, surpreendentemente, conservam algo da linha orgânica da última artista ? vão também para a lateral ? e fazem o olho vagar como num objeto ativo de Willys de Castro, em que a perda do centro leva o espectador a uma armadilha gestáltica.No entanto, mais uma vez, trata-se de pintura. Não é um penetrável de Oiticica nem uma instalação que negue a antiga técnica. Elizabeth Jobim é uma pintora, embora não se feche para novas propostas. Land Art? "Talvez. Essas telas, afinal, nasceram tendo pedras agrupadas como as de Stonehenge.