A mesma paixão por Clarice Lispector

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Por Agencia Estado
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Aracy Balabanian e Rita Elmôr não se conhecem. Nunca tiveram uma conversa pessoal. Mas ambas transformaram sua paixão pela escritora Clarice Lispector em arte. Essa afinidade é o motivo pelo qual estarão dividindo, neste fim de semana, o palco do Teatro Renaissance, onde reapresentam dois espetáculos inspirados na vida e obra da autora de A Hora da Estrela. Que Mistérios Tem Clarice, primeira produção da jovem Rita ? atualmente contracendo com Beatriz Segall em Estórias Roubadas ? estréia sexta-feira, às 19 horas, para apenas três apresentações neste fim de semana. Clarice ? Coração Selvagem, com a premiada Aracy, estréia também sexta-feita, às 21 horas, iniciando uma temporada de um mês. Para os apaixonados pela escritora, a dupla apresentação oferece a oportunidade de entrar em contato com abordagens distintas do universo da autora. Sob direção de Luiz Arthur Nunes, Rita encarna a escritora num espetáculo que reúne fragmentos de cartas, contos e crônicas, em roteiro criado pelo diretor em parceria com Mário Piragibe. Em Que Mistérios Tem Clarice, a escritora fala sobre si mesma, sua relação com as empregadas, a família e sobre o ato de escrever. Rita ganhou o Prêmio Shell de atriz por esse trabalho. Com roteiro de Maria Lúcya de Lima, Clarice ? Coração Selvagem tem o formato de uma entrevista, durante a qual a escritora faz digressões e relembra até algumas cenas de seus romances, interpretadas pelos atores Fernando Petelinkar e Laura Antunes. Segundo Aracy, o maior prazer proporcionado pelo espetáculo, foi perceber o interesse despertado no público pela obra da escritora. "As pessoas vinham pedir o texto ou indicações de nomes de livro de Clarice no fim das apresentações." Em dezembro, Aracy parte para uma temporada o espetáculo em Portugal. A administração do Teatro Renaissance foi responsável pelo convite a ambas, imediatamente aceito. Não é só o público quem sai ganhando com a dupla programação. Também as atrizes terão finalmente a oportunidade de conferir o trabalho uma da outra. "Quando Aracy estreou em São Paulo eu estava em temporada no Rio", lembra Rita. "Não pude assistir ao trabalho da Rita, mas estou muito curiosa", diz Aracy. Até quarta-feira, ambas não tinham consigo nem ao menos conciliar os horários de ensaios. "Não conheço Aracy, mas já tenho um enorme carinho por ela; mesmo que os textos escolhidos sejam muito diferentes, com certeza não dá para escapar da busca interior, do olhar sensível para o mundo característicos de Clarice", imagina Rita. "Quem é apaixonado por Clarice tem abertura de alma e, tenho certeza, será um encontro bonito." Aracy pensa o mesmo. "Soube que ela produziu o espetáculo com seu dinheiro, vendeu até um carro para isso", comenta. "Tenho muita curiosidade de ver como uma menina ? para mim ela é uma menina ? aborda o universo de Clarice." Rita é a primeira a ressaltar a importância da vivência no momento de mergulhar no universo da autora. "Quando decidi ver Clarice, não sabia explicar com clareza o que me atraía", lembra. "Hoje vejo que existem duas Ritas: antes e depois de Clarice; desabrochei com esse espetáculo."

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