PUBLICIDADE

A melhor forma para entender 'Menecma'

Por Igor Giannasi
Atualização:

O roteirista Bráulio Mantovani brinca que existem dois jeitos de se conhecer o significado da palavra "menecma". O chato: procurar a definição no dicionário; o divertido: assistir ao espetáculo de mesmo nome, escrito por ele no início dos anos 1990, mas só agora encenado, em uma produção dirigida pela diretora de cinema Laís Bodanzky e que estreia amanhã no Teatro Popular do Sesi, em São Paulo.Na trama, que mistura suspense e humor, um homem, Guilherme (Gustavo Machado), em conflito com a mulher (Paula Cohen), edita um documentário sobre o pai, ator famoso falecido recentemente. O barulho de um tiro chama a atenção de um investigador de polícia (Roney Facchini) que estava nas redondezas e que vai à casa desse homem averiguar se ali houve um crime. A partir daí, o aparecimento de sósias de pessoas ligadas a Guilherme vão revelando a conturbada relação que ele tinha com o pai morto.O nome original da peça seria "Em nome do Pai", que depois, após uma crítica da escritora Patrícia Melo, mudou para "Descendo a Escada", uma ação recorrente no espetáculo. Tempos depois, brincando num dicionário eletrônico no computador se deparou com a palavra "Menecma". Mais que o sentido literal dela - sósia -, a origem da palavra tinha ligação com o teatro do dramaturgo romano Plauto e mesmo com William Shakspeare, em "A Comédia dos Erros". Assim, fez algumas adaptações no texto e o rebatizou.Pesadelo - Propositadamente, o tom do espetáculo remete à lógica do sonho. "A peça é interrompida várias vezes. Quando o personagem (Guilherme) desmaia, fica tudo escuro", conta Mantovani. "Na verdade, eu pensei a peça como um grande pesadelo e de vez em quando esse personagem acorda e a gente não sabe o que acontece com ele."A ideia do texto, surgiu em 1992, quando o roteirista dos filmes "Cidade de Deus", "Tropa de Elite 1 e 2" e "VIP''s" - este estreou nos cinemas neste fim de semana -, entre outros, vivia na Espanha e viajava de ônibus entre Madri e a cidade de León, onde morava, e, naquele momento do sono em que se tem flashes de sonhos, ele visualizou o início da peça. "Vi uma mulher descendo uma escada espiral, mas não vestida como na peça, e tinha um cara embaixo morrendo de medo." Esta visão, ele atribui às leituras que fazia à época do dramaturgo sueco August Strindberg. "Ele era um excelente dramaturgo, mas com a reputação de ser misógino. Nas peças dele, as mulheres são sempre terríveis com os homens", comenta.Pensou também que a cena remetia ao trabalho do amigo e diretor Gerald Thomas e resolveu escrever aquela história, sem nenhuma pretensão, imaginando que mais tarde pudesse transformá-la em um romance (projeto que ainda pretende concluir).Já de volta ao Brasil, e depois de mostrar o texto a alguns amigos, o ator Gustavo Machado se interessou em encenar o texto. Juntou-se ao grupo, Roney Facchini, que sugeriu que a peça devia ser dirigida por um diretor de cinema. Como Machado já havia participado da primeira produção teatral de Laís Bodanzky, além de ter também trabalhado no filme dela "As Melhores Coisas do Mundo", ela foi a primeira opção que veio à tona. Depois de uma leitura da peça no apartamento de Mantovani, Laís "passou no teste" e foi convidada oficialmente para o projeto, isso há 4 anos. "O texto tem um molho do humor que eu gosto porque não é um humor do pastelão, do óbvio, é um humor sutil", diz a diretora. "A peça tem também essa segunda camada da história, da metalinguagem, e quem gosta de teatro vai entender mais ainda."Tempo - A montagem de "Menecma" tomou forma após a confirmação do Sesi na produção do espetáculo. Na trilha sonora, a diretora contou com o trabalho do produtor musical BiD. A cenografia ficou a cargo de Cássio Amarante. "O cenário muda só com um jogo de luz", conta Laís Bodanzky. Ambos já trabalharam com ela em seus filmes. Há também outros truques em cena, como o tiro e um alçapão que engole pessoas.Entre os ensaios e a estreia para convidados nesta sexta-feira, a diretora teve exatas oito semanas para preparar tudo. Pode até parecer o suficiente para quem teve cinco semanas para estrear seu primeiro espetáculo teatral, "Essa Nossa Juventude", em 2005, ainda assim Laís considera o tempo reduzido. "Agora, olhando para trás, eu fui completamente louca de dizer que dá pra fazer." Dessa vez, ela teve que também produzir um curta-metragem, o tal documentário sobre o pai de Guilherme, que é exibido no palco. "Uma coisa meio esquizofrênica", segundo ela.Laís compara que no cinema, cada etapa da produção é realizada em um momento específico e já no teatro, é "tudo ao mesmo tempo agora". "A equipe da luz, a equipe do som, a atuação têm de estar casados, se os três núcleos não estão unidos para fazer aquela cena, ela não anda, ela empaca. Fazer essa engrenagem funcionar no teatro não é fácil", comenta.Menecma, de Bráulio MantovaniDireção: Laís BodanzkyTeatro Popular do SesiAvenida Paulista, 1.313 - Cerqueira César - São Paulo-SP - Metrô Trianon-MaspIngressos: entrada franca às quintas-feiras e sextas-feiras. Nos dias gratuitos, a distribuição dos ingressos tem início a partir da abertura da bilheteria no mesmo dia do evento. Sábados e domingos: R$10 (inteira) e R$ 5 (meia entrada).Bilheteria: de quarta-feira a sábado, das 12h às 20h30; domingo das 11h às 20h. São distribuídos dois ingressos por pessoa.Vendas na bilheteria do teatro ou pela Tickets For Fun (11- 4003.5588) ou www.ticketsforfun.com.br. São vendidos dois ingressos por pessoa.Classificação: não recomendado para menores de 14 anosInformações: (11) 3146.7405 / 7406

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.