A maldade humana na obra literária

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Por Redação
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O jornalista e escritor Arnaldo Bloch precisou de jogo de cintura para encontrar analogias entre as obras das duas autoras da segunda mesa desta Flip, a americana Lionel Shriver e a paulistana Patricia Melo. O mediador trabalhou o tempo todo para encontrar semelhanças entre a obra de uma e outra, tão diferentes entre si - ao ser batizada como De Frente para o Crime, a mesa levava em conta só o livro mais famoso de Shriver, o premiado Precisamos Falar Sobre o Kevin (Intrínseca), em contraponto a toda a obra policial de Patricia Melo. Bloch foi atrás de vestígios em comum - o fato de o livro de Lionel mais recente no Brasil, O Mundo Pós-Aniversário, partir de um grande dilema pessoal, assim como acontece aqui e ali na obra de Patricia - até "coincidências" nas trajetórias de ambas, como o fato de Lionel ser casada com o "rei da baqueta", um baterista, e Patricia Melo com o "rei da batuta", o maestro John Neschling (Patricia quase acabou com a brincadeira ao responder, a certa altura, que preferia falar de literatura em vez da vida pessoal, mas se rendeu ao discorrer sobre sua experiência com a maternidade).Na maior parte do tempo, a discussão foi acerca da maldade - em Precisamos Falar Sobre o Kevin, o filho da protagonista é um menino "Columbine", que matou colegas na escola. Patricia, que se disse admiradora do livro de Lionel, argumentou que, nele, vê o crime ganhar status de linguagem, no sentido de exprimir o que o garoto sente. "Só não é uma linguagem muito articulada", respondeu Lionel, após elogiar a "astúcia" da brasileira. A americana ressaltou então que a maldade é um rótulo desumanizador, já que "chamamos de mal aquilo que não sabemos explicar".Ao final, quando foram abertas as perguntas ao público, Patricia ouviu uma questão sobre uma resenha de jornal sobre como seu trabalho ainda ecoa o de Rubem Fonseca, e não deixou barato. "Infelizmente, a crítica literária no Brasil é simplista, pobre e pouco técnica. Mas não me afeto mais com isso, não."

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