25 de julho de 2010 | 00h00
Certa vez me hospedei neste hotel: foi como ser Jean Nouvel por alguns dias, tamanha a perspectiva do estilo (quase uma filosofia) do arquiteto que a experiência me proporcionou. Minha suíte - totalmente preta em uma das extremidades, e totalmente branca na outra, que se abria inesperadamente para um jardim de bambu - ficava no fim de um corredor preto que tornava impossível distinguir entre dia e noite.
A atmosfera de confusão era sublinhada por um projetor oculto que lançava no teto do quarto cenas de Esse Obscuro Objeto do Desejo, de Luis Buñuel. A mesma cena era reproduzida de novo e de novo, e eu não podia desligar o projetor. A sensação transmitida era onírica, inesquecível e, sinceramente, um pouco enlouquecedora.
Ele é muito talentoso quando trabalha com arte, artistas e conceitos criativos. Seus dois grandes projetos de arte estão no Oriente Médio: o Louvre Abu Dabi e o Museu Nacional do Catar. Ambos são tentativas de encontrar um projeto que responda à paisagem desértica, e ambos se situam sobre jardins d"água. "Parece que estamos nos primórdios do trabalho de arquitetos europeus no Oriente Médio", diz ele.
"Temos de apresentar algo melhor do que antes - precisamos encontrar formas de ajudar a moldar uma arquitetura verdadeiramente árabe, em vez de simplesmente jogar projetos prontos e inapropriados no meio do deserto."
Curingas. Nouvel é um arquiteto cheio de curingas nas mangas de seus inseparáveis paletós pretos. Mas suas ideias podem ser tão românticas quanto são filosóficas: a proposta Tour Sans Fins mostrou como até o mais pragmático dos tipos de edifício (neste caso, um bloco de escritórios) pode se transformar numa obra de imaginação poética, finesse e ousadia estrutural.
Enquanto o sol banha este pavilhão escarlate, é difícil não pensar em Nouvel também como um otimista, dotado de uma visão bastante não francesa do clima britânico. Ele certamente teve sorte ao revelar seu "dispositivo solar" em meio a uma onda de calor. Nouvel poderia facilmente ter sido obrigado a explicar sua inspiração sob um guarda-chuva vermelho, enquanto o mundo se dissolvia no cinza. / TRADUÇÕES DE AUGUSTO CALIL
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