A jornada moral de Walter White

Começa hoje nos EUA a reta final de 'Breaking Bad', que examina a volátil relação entre o poder, o certo e o errado

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Por Roberto Nascimento
Atualização:

Uma série de TV que se dá o luxo de dividir a última temporada em dois anos e, ainda assim, inspira calafrios e palmas suadas nos dias que antecedem sua volta final já está garantida no panteão de clássicos televisivos. Neste domingo, na reestreia norte-americana de Breaking Bad, quando o professor de química transformado em rei do narcotráfico, Walter White, interpretado por Bryan Cranston, voltar a dominar as resenhas e discussões, ela estará apenas começando uma duradoura volta olímpica pelo zeitgeist pop.O impacto cultural e o respeito crítico que a série acumulou - mais os Prêmios Emmy - em suas afiadas e polêmicas temporadas é imenso. Tudo calculado e produzido com maestria por Vince Gilligan e executado com ainda mais categoria por sua trupe. A série - exibida pelo AXN e o Netflix - não estará disponível imediatamente no Brasil, apenas através dos "jeitinhos" virtuais que a transformaram em fenômeno mundial. O que se espera é mais um passo em direção ao destino controverso do Sr. White, um dos personagens mais amados e contestados dos últimos anos, criado para ser uma evolução do professor pacato do filme Adeus Mr. Chips ao megalomaníaco traficante de Scarface. É uma trajetória polêmica. Quando o conhecemos, Walter White era um fracassado gênio da química, satisfeito com o trabalho de professor de colegial, que descobre ter câncer e, sem dinheiro, resolve usar seu talento para produzir metanfetamina de alto nível e deixar um pé-de-meia para sua família. Aos poucos, vai se transformando em Heisenberg, o melhor "cozinheiro" da droga na região e alguém impiedoso e distante do desesperado doente do começo da série. Onde o vimos pela última vez, Walter é obrigado a tomar decisões escabrosas para preservar suas conquistas.O instinto de sobrevivência e proteção familiar que a doença desperta no personagem (tão bem expostos pelas situações criadas por Gilligan) são reações viscerais à situação que Breaking Bad leva ao limite, levantando o questionamento de até onde algo se justifica. Os mais fanáticos por Walter (e o repórter se inclui no clube) diriam que até o final. Outros já tomariam as dores de sua mulher, Skyler, e de seu filho, Walter Jr. Independentemente disso, todos estarão ligados nos oito capítulos que encerram esta jornada.

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