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A IRONIA NA OBRA DE CLARA IANNI

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Por Redação
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Na mesma 12.ª Bienal de Istambul, em cartaz até o próximo domingo, na Turquia, outro artista brasileiro se destaca como um novo nome, Clara Ianni. Vê-se, na ficha ao lado de sua obra, Trabalho Abstrato (2010), uma pá com um furo quadrado no meio, que ela nasceu em 1987, ou seja, ainda jovem. Clara, assim como Theo Craveiro, é paulistana e se formou em artes plásticas na USP, mas vive desde julho em Berlim. Morou antes em Paris e em Belo Horizonte e está agora despontando em mostras com obras em que sempre explora, como diz, "uma dose de ironia". "Para mim, é uma forma de constituir uma unidade argumentativa diante dessa realidade política, econômica e social profundamente desagregada, quase que esquizofrênica", afirma a artista.O Trabalho Abstrato de Clara Ianni, de uma forma direta, é "um objeto que tem sua função invalidada por uma operação simples: uma incisão geométrica", comenta. Outras pás foram "invalidadas" ainda nas obras A Crítica da Separação (2010) e Trabalho Concreto (2011), por exemplo, mas a vertente irônica e provocativa de Clara Ianni se estende ainda mais a trabalhos como Territorial Pissings - um quadrado estipulado no chão com urina -; e Natureza Morta ou Estudo para Circunferência, formado por nove chapas de zinco perfuradas por tiros de revólveres."É claro que este é um momento de visibilidade", afirma Clara sobre sua participação na Bienal de Istambul. Mas, para ela, a mostra é apenas parte de sua trajetória. Clara é dos artistas de discurso explosivo e crítico. "Vivemos em uma sociedade de consumo e, ao meu ver, a ideia de jovem artista está muito vinculada com a noção da novidade no mercado", diz. "A chamada 'obsolescência programada' que rege o universo dos produtos se estendeu para a esfera social e acho que os artistas - que, em última instância, são também commodities - não estão isentos disso."A paulistana está em Berlim fazendo um curso de pós-graduação e residência artística. Antes, na França, em 2008, participou de um intercâmbio na Université Paris 8 e de estágio no Museu do Louvre e, em Belo Horizonte, integrou o programa de bolsa do Museu de Arte da Pampulha. "Recentemente, comecei a vender obras, mas não estou em nenhuma galeria e até agora tenho trabalhado de forma independente", conta. "Essa autonomia é interessante, pois me obriga a aprender a agenciar todas as instâncias envolvidas: produção, circulação, financiamento, etc."Clara cita como referências, "do ponto de vista da realização formal e conceitual", as obras dos brasileiros Cildo Meireles e Antonio Dias, do espanhol Santiago Sierra, além do polonês Artur Zmijewski e da israelense Yael Bartana. É possível acompanhar as criações da artista por meio de seu blog: www.claraianni.blogspot.com. / C.M.Daniel Piza. O colunista, que escreve neste espaço aos domingos, está em férias.

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