A instituição do Heavy Metal

Iron Maiden investe em documentário para justificar a devoção dos fãs

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Por Marcelo Moreira
Atualização:

Uma corporação cada vez maior, mas que se preocupa em estar o mais perto possível dos fãs. A mensagem é piegas, mas o Iron Maiden em nenhum momento se preocupou com isso ao produzir e lançar o documentário Behind the Beast. Ainda bem, já que tal postura permitiu que o trabalho preservasse a espontaneidade e a honestidade durante a produção.O documentário está sendo promovido como o diferencial do pacote CD duplo/DVD duplo que chegou ontem às lojas brasileiras, em lançamento mundial de En Vivo!. O carro-chefe é o show filmado em 10 de abril de 2011 no Estádio Nacional, em Santiago, no Chile. Foi a melhor apresentação da banda na turnê e se tornou a primeira superprodução do Iron Maiden em termos técnicos, superior à do DVD Rock in Rio, de 2001.Filmado com 22 câmeras de alta definição e com ousados efeitos de edição, En Vivo! trata o show chileno como uma autêntica celebração, embora não haja nenhum bônus em relação ao repertório - é praticamente o mesmo de toda a turnê, com destaque para cinco músicas do último álbum, Final Frontier, que funcionaram bem ao vivo.O documentário Behind the Beast, produzido pela equipe técnica da banda liderada por Andy Matthews, é tratado como um disco-bônus do DVD, embora seja claramente um produto muito benfeito e bem dirigido. Por mais que se perca em detalhes irrelevantes e seja excessivamente longa (88 minutos), a obra tem o mérito de mostrar o Iron Maiden como uma corporação eficiente e altamente profissional que consegue manter o espírito espontâneo e divertido em meio a muito trabalho.Se o comprometimento dos integrantes do grupo com o trabalho é o maior trunfo para explicar a devoção que os fãs têm pelo Iron Maiden, o documentário explica como isso foi alcançado. Que toda a equipe de bastidores e de administração é competente já era de conhecimento do público, sob comando do empresário inglês Rod Smallwood.Behind the Beast deixa clara a participação dos músicos em praticamente todas as áreas de produção de uma turnê mundial que teve 98 shows em 38 países, com público estimado em 2 milhões de pessoas. O baixista Steve Harris, o líder, aparece diversas vezes dando palpites no material de promoção, na montagem dos equipamentos e do palco e discutindo a logística dos deslocamentos por todos os continentes. Ele e o guitarrista Dave Murray também aparecem nos testes da decoração de palco, com uma reprodução mecânica da versão futurista do monstro Eddie, o mascote do grupo.No palco, o profissionalismo se traduz em um show bem executado, embora os ares de superprodução possam, em alguns momentos, desviar o foco da música, mas é louvável o comprometimento em fazer a máquina funcionar. O baterista Nicko McBrain, por exemplo, é de uma precisão assustadora na execução de temas intrincados aos 60 anos de idade. O vocalista Bruce Dickinson, em forma aos 54 anos, corre bastante e deixou de abusar de certa teatralidade forçada de anos atrás. O DVD mostra um show com a competência de sempre do Iron Maiden, sem novidades, mas que demonstra na prática, em um documentário extra, que o grupo é, antes de uma ser uma corporação, uma instituição.

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