A imigração na cadeira do barbeiro

Produzido para a televisão pela Synapse, Museu da Pessoa e TV Cultura, O Mundo Cabe numa Cadeira de Barbeiro, que vai ao ar neste sábado, na TV Cultura

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Por Agencia Estado
Atualização:

Produzido para a televisão pela Synapse, Museu da Pessoa e TV Cultura, O Mundo Cabe numa Cadeira de Barbeiro, que vai ao ar neste sábado, na TV Cultura, leva para a tela pequena a técnica do falso documentário, consagrada pelo clássico curta brasileiro Ilha das Flores (1989) e adotada por José Roberto Torero como marca registrada de vários filmes que dirigiu, entre os quais se destacam Amor! (1994) e A Alma do Negócio (1996). A imigração estrangeira surge como tema mais amplo aqui, embora o foco central recaia sobre seis imigrantes, o espanhol (naturalizado brasileiro) Julio Fombelida, o italiano Consolato Laganá, o japonês Masashi Yamaguchi, o português Antônio Guimbra, a síria Fatimah Ahmad e a boliviana Lucy Huanca Coarite. Cada um deles representa uma das principais correntes migratórias que desembarcaram em São Paulo ao longo do século 20. Suas trajetórias e histórias de vida serão esmiuçadas durante os 55 minutos em que se convertem em astros e estrelas temporários. Todas elas serão narradas por Paulo José e Paulo César Peréio, ilustradas por dados estatísticos e entremeadas por histórias de outros supostos imigrantes, um tanto absurdas e exageradas para serem consideradas verdadeiras. Faz parte da técnica misturar dados verdadeiros e falsos, confundindo um pouco o espectador e dando um molho de humor à narrativa. A imagem sugerida pelo título tem origem no conceito do filme, que toma como premissa o fato de que os cabelos, como as digitais, são únicos como traços característicos. Torero chegou à conclusão de que esse seria o fio condutor ideal depois de examinar as biografias de 80 candidatos a personagem. O barbeiro nascido na Espanha Julio Fombelida, de 70 anos, apresentou-se como tipo perfeito para costurar as outras histórias. Ele chegou ao Brasil no início do século passado, ainda pequeno, e hoje se considera mais brasileiro do que espanhol. No fim das contas, os personagens se equivalem e suas histórias superam tanto o tema mais amplo quanto o formato de falso documentário. O sapateiro italiano Consolato Laganá, que aos 97 anos mostra um humor e uma disposição impressionantes; o massagista japonês Masashi Yamaguchi, de 83 anos, que trabalhou durante anos como enfermeiro; o taxista português Antônio Guimbra, de 80 anos, que perdeu um filho logo que chegou ao Brasil e, durante um bom tempo, teve quatro carros na praça; a dona de casa síria Fatimah Ahmad, de 40 anos, que se casou, constituiu família e hoje ajuda o marido, e a costureira boliviana Lucy Huanca Coarite, de 22 anos, que fugiu de casa com a filha pequena para escapar da violência doméstica e hoje é dona do próprio negócio em sociedade com colegas. A pesquisadora Karen Worcman e o jornalista José Santos Matos, do Museu da Pessoa, são os verdadeiros pais da idéia. Fundadores e diretores da instituição, há dez anos trabalham na organização de um vasto arquivo sobre imigração no Brasil - um trabalho que deve gerar novos frutos a partir do próximo ano, quando pretendem facilitar o acesso ao acervo, colocando-o em um portal na internet. A primeira proposta, surgida de uma conversa com Júlio Worcman (primo de Karen), da produtora Synapse, era simplesmente fazer um documentário sobre a imigração. Chamado para conduzir os trabalhos, Torero deu a forma final ao filme. Escolheu os personagens, entrevistou-os e optou pela narrativa que confunde dados reais e fictícios numa mistura bem-humorada. O Mundo Cabe numa Cadeira de Barbeiro pode não ser um documento histórico fundamental, mas ensina muito a respeito da vida dos imigrantes que adotaram o Brasil. Serviço - O Mundo Cabe numa Cadeira de Barbeiro. Sábado, às 21 horas. TV Cultura (operadoras/canais: NET, 16; SKY, 37; Directv, 213

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