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A história de uma cantora e de uma canção

Por Agencia Estado
Atualização:

A biografia de uma grande cantora, em geral, confunde-se com a história de uma grande canção. No caso de Billie Holiday, a canção é Strange Fruit, presenteada a ela em 1939 por um escritor anônimo chamado Lewis Allan (nome real: Abel Meeropol), um freqüentador do clube Café Society, de Nova York. O livro Strange Fruit, de David Margolick, com prefácio de Ellis Marsalis, o patriarca do clã dos Marsalis, foi lançado recentemente e conta uma história em que cantora e canção parecem nascer uma para a outra. Na noite em que Allan lhe deu o poema, Billie hesitou. Não tinha confiança no apelo da canção. Mas o texto a deixou perturbada, conta Margolick. "Um sujeito me trouxe o diabo de uma maldita canção e acho que vou cantá-la", disse algum tempo depois ao trompetista Frankie Newton. Um dia, no Café Society, com as luzes apagadas, apenas um spot no rosto da diva, os garçons recolheram as bandejas e ela cantou. Nova York ficou em febre, conta Margolick. Na década de 30, eram comuns os linchamentos de negros no sul dos Estados Unidos - a bárbarie ainda persiste - e a canção que falava de corpos negros balançando em álamos era um recado curto e direto aos racistas. A Columbia Records, gravadora de Billie, não quis a canção. Billie foi a Milt Gabler, dono da pequena Commodore Music. Fizeram um trato com a Columbia, que liberou Billie para gravar um single. Tinha Strange Fruit de um lado e a bluesy Fine and Mellow do outro. Entrou direto no Top 20 da Billboard, embora a empresa tenha classificado a canção como "controversa". Nina Simone, Tony Bennett, Cassandra Wilson, Sting, UB40, Diana Ross, Dee Dee Bridgewater e muitos outros gravaram essa que a revista Time considerou a maior de todas as canções americanas. A versão de Billie é a definitiva. Strange Fruit - Billie Holiday, Café Society, and An Early Cry for Civil Rights; David Margolick. Running Press. US$ 15,00.

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