A glória cultural de Bagdá

Nostalgia do passado cultural de Bagdá faz moradores sonharem com os tempos de Ali Babá e os Quarenta Ladrões e outras histórias das Mil e Uma Noites. No mundo árabe é famoso o caso de amor da cidade com os livros: "Cairo escreve, Beirute publica e Bagdá lê"

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Por Agencia Estado
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Como sempre ocorre nas manhãs de sexta-feira, antes do chamado para as orações do meio-dia, uma calma rua na parte velha de Bagdá se transforma num mercado popular, atraindo multidões de aposentados com ternos gastos e adolescentes com jaquetas de couro para vasculhar pilhas de livros usados e empoeirados. ?Você tem alguma coisa nova??, pergunta, esperançoso, um professor sedento por uma ficção recente. O vendedor sacode a cabeça, sombrio. A maioria dos volumes era datada e amassada, remanescente de bibliotecas particulares liquidadas ? como muitas outras coisas aqui ? porque os donos precisavam de dinheiro para sobreviver ao embargo comercial imposto pelas Nações Unidas após a invasão iraquiana do Kuwait, em 1990. Havia tomos de Dickens, cópias amareladas do Reader?s Digest e livros de computação desatualizados, mas nada impresso depois do começo das sanções. O professor acaba escolhendo uma coleção de poesia escrita há mais de mil anos, quando Bagdá era uma cidade cosmopolita e sofisticada, centro de ciência e literatura, de arte e entretenimento, de álgebra e das Mil e Uma Noites. ?Quando o presente é difícil, precisamos nos lembrar do passado?, diz o professor. ?Ele nos dá forças para continuar.? Traumatizada pelo governo autoritário, duas guerras devastadoras, sanções e a invasão americana, Bagdá sobrevive apoiando-se na nostalgia. Quando um visitante pergunta do que os moradores mais gostam na cidade, eles freqüentemente falam de como era a vida há décadas ? ou séculos. ?Temos uma profunda relação com a civilização que remonta aos dias de Ali Babá e, antes disso, aos babilônios, que deram ao mundo o primeiro código de leis, e aos sumérios, que inventaram a escrita?, disse Fadhil Tamir, crítico literário que freqüenta o mercado de livros. ?Éramos um lugar de cultura, o que nos deixa muito orgulhosos.? Os moradores de meia-idade lembram-se dos animados anos 70, a década anterior à catastrófica guerra com o vizinho Irã, quando a receita do petróleo subsidiava uma confortável existência de classe média para a maioria dos iraquianos. Eles podiam comprar carros novos e casas espaçosas. O governo fornecia assistência médica e bolsas de estudos no exterior. Pululavam os bares, casas noturnas e cinemas exibindo as últimas novidades de Hollywood. A geração mais velha relembra os dias anteriores ao partido Baath, do presidente Saddam Hussein, e aos governos revolucionários que o precederam, quando reinava a monarquia instalada pelos britânicos e as pessoas desfrutavam de mais liberdades civis. Outros sonham com a Bagdá de Ali Babá e os Quarenta Ladrões e outras histórias das Mil e Uma Noites, quando a cidade era capital de um império que se estendia do norte da África à fronteira da China. E alguns invocam as antigas civilizações da Suméria e da Babilônia, cujos descendentes instalaram uma vila chamada Bagdá numa curva do Rio Tigre há cerca de 2.800 anos. Clique aqui para ler a reportagem completa Veja o especial :

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