A gente é feita para dançar

Jamiroquai, Air e Bajofondo abalaram a Chácara, com os sons das pistas

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Por Lauro Lisboa Garcia
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A música dançante predominou na eclética programação do festival Natura Nós, anteontem na Chácara do Jóquei. Se "a gente é feito pra acabar", como cantou Marcelo Jeneci em sua pungente parceria com Zé Miguel Wisnik, a gente é feito mais pra dançar, como lembrou Gustavo Santaolalla no "alucinante" (palavra dele) show do Bajofondo, formado por argentinos e uruguaios, fundindo tango, tecno, milonga e hip-hop.Antes a dupla francesa Air, estreando no Brasil, fez o show mais cool e elegante da noite (leia crítica abaixo), misturando texturas e alternando climas, entre o contemplativo e o dançante. Foi uma pequena sinfonia eletrônica, com excertos de psicodelia, rock, folk, trip-hop, eletrobossa e progressivo.O Jamiroquai já entrou em cena com a plateia ganha, encerrando a noite com um grande baile de disco music. Em ótima forma vocal e física, dançando muito, o cantor Jay Kay (que não tirou o cocar da cabeça em nenhum momento) e os excelentes músicos que dão potência a suas canções não precisaram de muito esforço pra animar a pista. Com um roteiro recheado de hits poderosos - incluindo Virtual Insanity, Alright, When You Gonna Learn, Cosmic Girl, Love Foolosophy, Canned Heat e Deeper Underground - eles levantaram o público de 17 mil pessoas (havia 18 mil ingressos à venda).Para os mais velhos, havia um clima meio nostálgico, das festinhas e clubes dos anos 90, mas a banda foi além disso. Com um trio de vocalistas negras, metais, percussão pesada e um baixo absurdo de bom, o som da banda está mais voltado para o funk/disco music ao estilo da incrível banda Chic. As boas novas canções do álbum Rock Dust Light Star, que sai em novembro, vão por esse caminho. Essa é a terceira vez que o Jamiroquai toca em São Paulo, e cada vez para um público maior. Jay Kay estava radiante com a receptividade do público e não era para menos.Gary Lightbody, vocalista do Snow Patrol também demonstrou entusiasmo com os paulistanos, fez média com os fãs, mas não arriscou a tocar nenhuma nova canção. A banda se esforça pra parecer o U2 (os primeiros acordes do hit Open Your Eyes, que abriu o show, são provas incontestáveis), mas não passa de um sub-Coldplay, muito mais careta, derivativo e pegajoso. O único momento de maior "ousadia" foi quando o cantor Gary Lightbody e o guitarrista Nathan Connolly quase se beijaram na boca. Muita simpatia pra pouca música.A infraestrutura do Natura Nós melhorou expressivamente em relação aos anos anteriores, tanto na qualidade de som, como no conforto para o público. Na área Premium, com revestimento do piso para evitar a concentração de lama. Dividir os shows em dois palcos foi outro aprimoramento. Os intervalos entre as atrações não passaram de 10 minutos e a pontualidade foi exemplar. Como não há show na Chácara do Jóquei sem lama e chuva, o breve toró que caiu no início da noite afetou o palco onde Vanessa da Mata se apresentava e ela teve de interromper o show aos 40 minutos. Estava ok, mas das cantoras brasileiras quem abalou mesmo foi Karina Buhr, com uma ótima banda que incluía Edgar Scandurra, Fernando Catatau e Guizado. Grande guitarrista, Catatau devia dar um jeito de arrumar um vocalista para substituí-lo no Cidadão Instigado, que não foi tão feliz desta vez. Os Móveis Coloniais de Acaju, com a competência habitual, fizeram um estardalhaço. No extremo oposto, Céu, mais uma vez, sai com o troféu de show mais chato e arrastado de um festival, com aquelas canções vagarosas e aquele vocal linear.

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