A falência da linguagem inspira peça 'Ah, a Humanidade!'

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Por Ubiratan Brasil
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Um treinador de futebol, devidamente paramentado, prepara-se para uma coletiva de imprensa, mas, ao invés de falar sobre os problemas do time, desanda a comentar sobre a vida, o amor, a cidade. Minutos depois é a vez da funcionária de uma companhia aérea, que terá a missão de conversar com parentes de vítimas de um acidente - novamente, o inusitado acontece, pois ela prefere lembrar problemas pessoais, como a perda do pai.As duas histórias fazem parte de um conjunto de cinco que compõem a peça "Ah, a Humanidade! E Outras Boas Intenções", que estreia nesta sexta-feira no Teatro Anchieta, no Sesc Consolação. Em todas, prevalece o sentimento da resistência. "Sempre tive fascínio pelas pessoas que seguem adiante mesmo quando as coisas não vão bem", comenta o dramaturgo americano Will Eno, autor do espetáculo que, como vem acontecendo com a montagens de suas peças no Brasil, novamente tem a assinatura do ator Guilherme Weber e do tradutor e diretor Murilo Hauser, membros da Sutil Companhia de Teatro, responsável pelo lançamento do autor no Brasil há dez anos."Will trata de um tema que lhe é muito caro: a falência da linguagem, ou seja, quando não conseguimos expressar nossos sentimentos mais profundos", diz Weber.Will Eno tem uma sensibilidade artística à flor da pele - sua inspiração nasce a partir de momentos banais ou de grande complexidade histórica. Adolescente, surpreendeu-se quando assistia a uma peça em que uma cadeira, ao invés de sumir magicamente de cena, puxada por um invisível fio de náilon, despencou no chão, por conta de uma falha. O fascínio se quebrou e mostrou ao jovem rapaz que a falibilidade também existia no fantástico universo da arte.Outro exemplo compreende um tremendo desastre histórico. Na noite de 6 de maio de 1937, o gigantesco dirigível Hindenburg preparava-se para descer no campo de pouso da base naval de Lakehurst, em Nova Jersey (EUA), quando, às 19h30, um incêndio tomou conta da aeronave - como era utilizado gás hidrogênio, altamente inflamável, para mantê-lo no ar, bastaram 30 segundos para que tudo fosse reduzido a pó, deixando um saldo de 36 pessoas mortas. Em suas inúmeras viagens anteriores, o Hindenburg nunca sofreu ameaças de acidente, daí a enorme surpresa provocada pela sua destruição.À espera de uma aterrissagem rotineira, o locutor da rádio WLS Chicago Herbert Morrison imortalizou o acidente ao narrar aquele meio minuto dramático. Sua descrição, pontuada pelo desespero, tornou-se clássica, especialmente quando, ao revelar sua incapacidade, pronunciou a expressão "Oh, a humanidade", que logo entrou para a cultura popular americana."Até hoje, é usada para expressar desesperança", conta o ator Guilherme Weber, que volta a interpretar em um texto de Eno - ele esteve em "Temporada de Gripe", "Lady Grey" e "Thom Pain", que foi indicada ao prêmio Pulitzer em 2005. "A partir disso, Will criou histórias curtas mas de forte impacto, que têm em comum a evidência de que a linguagem muitas vezes revela-se falha para expressar sentimentos profundos." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.AH, A HUMANIDADE! E OUTRAS BOAS INTENÇÕESSesc Consolação - Teatro Anchieta (R. Dr. Vila Nova, 245). Tel. (011) 3234-3000. 6ª e sáb., 21h; dom., 18h. R$ 8/R$ 32. Até 28/7.

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