A eterna obsessão de Werner Herzog

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Por Ubiratan Brasil
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O aspecto tranquilo, a voz mansa, o olhar longínquo escondem a verdadeira persona do cineasta alemão Werner Herzog - para ele, o cinema é movido a obsessão. Filmes, segundo ele, necessitam ter uma execução suada para serem devidamente valorizados. Foi o que o moveu quando dirigiu Aguirre - A Cólera dos Deuses e, principalmente, Fitzcarraldo, no interior da selva amazônica, filmes que exigiram uma atípica mistura de esforço físico e criatividade para resultar em verdadeiras obras-primas.O mesmo se pode dizer de seus documentários, que serão exibidos a partir de hoje no Instituto Goethe, que também programou filmes sobre o cineasta alemão. O próprio Herzog estará presente, a partir das 19 horas, para comentar com o público sobre esse aspecto de sua carreira - a conversa será mediada pelo jornalista Eduardo Simões. Em seguida, será exibida a primeira parte de Sou o Que São Meus Filmes, documentário de Christian Weisenborn e Erwin Keusch e que compreende a fase entre 1976 e 78.Até sábado, serão exibidos 20 longas, produzidos entre 1965 e 2005 e divididos em cinco temáticas: Sobre Werner Herzog, Criação e Apocalipse, O Início e o Fim da Linguagem, Guerreiro e Perpetrador, Decolagem e Queda. Com exceção de Fata Morgana, habitual frequentador de mostras relativas ao trabalho do alemão, a programação traz pequenas joias. Como O Grande Êxtase do Entalhador Steiner, de 1974, um retrato do campeão mundial e recordista de saltos de esqui, Walter Steiner; na verdade, um herói legitimamente herzoguiano: obcecado, solitário, sempre desafiando os próprios limites. "Herzog sempre desafiou fronteiras, geográficas e estéticas. Ficção e documentário sempre conviveram em sua obra, com a ênfase oscilando de um polo a outro", comentou o crítico Amir Labaki quando, em 2007, o festival É Tudo Verdade apresentou uma retrospectiva do alemão.Os filmes que serão exibidos no Goethe oferecem um perfil quase completo de um artista tão complexo, mas a programação sairia recompensada se também contasse com O Peso dos Sonhos, de Les Blank - ele acompanhou a rodagem de Fitzcarraldo, que mostra um homem obcecado pelo sonho de erguer um teatro no meio da floresta amazônica e levar a ópera de Caruso para as populações locais. Um enorme barco foi construído pela produção e por índios amazônicos, que assumiram a faraônica missão de levá-lo rio acima, no Amazonas. A câmera atenta de Les Blank acompanhou todos os detalhes, inclusive a rebelião dos moradores locais quando um deles morreu no trabalho.Hoje fixado em Los Angeles, Herzog continua perseguido por dúvidas cuja solução exige sacrifícios mas oferece autênticos relatos humanos.WERNER HERZOG: SOU O QUE SÃO MEUS FILMESGoethe-Institut São Paulo. Rua Lisboa, 974, tel. 3296-7000. Hoje a sábado, vários horários. Grátis.

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