
18 de março de 2011 | 00h00
A consciência desse fato, e sua negação, fazem a força e a debilidade do documentário. Os diretores sabem que é meio inútil tentar decifrar o mistério Elza. E, no entanto, tentam fazê-lo, através de depoimentos de colegas, como Caetano Veloso e Maria Bethânia, e especialistas, como José Miguel Wisnik e Hermano Vianna. Ao mesmo tempo, deixam que ela "fale" por si mesma. Ou seja, deixam que cante. E que nos confronte com seu enigma. Quem é essa criatura que se apresenta na tela cantando Lama, diretamente para nós? De quem é esse rosto, esculpido pela vida e por mil plásticas? De onde vem essa voz, à beira do abismo em notas mais agudas, que se refugia no fundo da garganta e nos toca lá, naquela região, que, um pouco por pudor, chamamos de "fundo da alma"? Elza nunca está onde pensamos. É um milagre brasileiro, o da transmutação da miséria em ritmo e alegria. Não se explica.
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