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A dureza de ser caipira

Dupla de Mato Grosso faz de tudo para não entrar no balaio do ''sertanejo moderno''. Pelo jeito, público não vai faltar

Por Cristiane Bomfim
Atualização:

Se dependesse só da vontade de João Carreiro e Capataz, o sucesso viria em versos brutos sobre a vida do cabra simples criado na roça, que gosta do certo e que ainda tropeça na gramática na hora de contar causos ou falar de amor. Mas para fazer suas modas de viola chegarem às rádios, a dupla de Mato Grosso teve de fazer um bem bolado e acrescentar no repertório músicas com temas mais atuais. É um pé no interior e outro na vida dos jovens que vivem nas grandes cidades. "É que não dá para sobreviver só das modas que a gente gosta", explica João Carreiro, de 27 anos e compositor de todas as músicas do CD que será lançado neste mês. A ideia da dupla, que caminha na contramão das conhecidas "sertanejas universitárias" é agradar de uma vez só aos dois públicos: o que gosta da música caipira e o que pouco conhece este estilo."A gente quer trazer pro nosso lado quem gosta do sertanejo romântico e do sertanejo pop", conta Capataz, 32 anos, que na verdade se chama Hilton. E foi nessa pegada que a dupla formada há oito anos conseguiu gravar em 2009 o primeiro CD pela Som Livre. O segundo, com DVD, será lançado no mês que vem, com o nome Xique Bacanizado. "A gente não tocava nas rádios e ainda não toca, mesmo assim no interior nossas músicas são conhecidas e o público sabe de cor. Isso chamou atenção da gravadora", diz João.Para a cantora, apresentadora e entusiasta da moda caipira, Inezita Barroso, a fórmula escolhida pela dupla pode não dar certo. "Quando o dinheiro entra no assunto, a arte é deixada de lado. E quem gosta de moda caipira não gosta disso tudo que andam chamando de sertanejo", diz. Ela no entanto, concorda que não se vive de moda de viola.O produtor musical e jurado do Qual é o seu talento?, do SBT, Carlos Miranda, acredita que o sucesso da dupla nas grandes cidades é questão de tempo. "Os caras estão totalmente no caminho inverso das duplas sertanejas da moda hoje. Eles sabem usar a moda raiz muito bem e ao mesmo tempo modernizam com mais bom gosto. É muito bom que existam contrapontos como este, senão o sertanejo ia pro buraco", diz.Fãs de Tião Carreiro e Pardinho - foi daí que veio o nome da dupla - e de Matogrosso e Mathias, a dupla só fez um show na Capital, que ocorreu neste ano. Mas já é conhecida em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Goiás e interior de São Paulo. "Todo mundo começa na Capital e depois se espalha pelo Brasil. Estamos fazendo o contrário", diz Capataz.A dupla se conheceu por acaso em 2002. João sempre tocou viola. E Capataz, que queria ser delegado, arranhava. O tio de Capataz apresentou os dois. "A gente não é irmão, mas temos a moda em comum."COMO ELES SOAM?Inezita BarrosoCantora e apresentadora"Sempre disse que moda de viola não dá dinheiro. Moda não tem guitarra, bateria. São duas violas caipiras com letras religiosas, da natureza, da vida no campo. O que eles fazem não me parece verdadeiro" MirandaProdutor musical"É um milhão de vezes mais interessante do que todas as duplas sertanejas ditas universitárias. Eles estão na contramão. Sabem usar a raiz muito bem e ao mesmo tempo modernizam com uma pegada forte"TinocoCantor"Fico muito orgulhoso que as duplas novas cantem modas de viola. Eles estão conservando uma tradição e levando esse estilo para o grande público"

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