A construção do mundo incerto pelas imagens

Este é o mote da exposição coletiva 'Trans_Imagem' que a Galeria Virgilio apresenta ao público

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Por Camila Molina
Atualização:

Obra de Beatriz Toledo faz uma citação contemporânea a Manet. Foto: Divulgação

 

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SÃO PAULO -  O sonho da paisagem, do lugar idílico com linha do horizonte e a certeza de que tudo está em seu devido lugar ganha hoje na arte contemporânea outras considerações: como atualmente existe uma consciência inevitável de que o mundo é fabricado por meio das imagens, as relações do sujeito com o espaço, o tempo e o real são questionadas de outras maneiras nos trabalhos dos artistas. Esse é o mote da exposição coletiva Trans_Imagem, que se inaugura hoje para o público na Galeria Virgilio, reunindo obras de Adriana Ramalho, Ana Elisa Carramaschi, Ana Mazzei, Aurélie Pétrel, Beatriz Toledo, Cristiana Camargo, Guga Szabzon, Ilma Guideroli e Osmar Pinheiro.

 

"A imagem não é mais representação do mundo", diz Regina Johas, curadora da exposição, completando que hoje "aprendemos a reconhecer a paisagem como um constructo" e que "a arte é linguagem antes de tudo". A mostra é resultado das discussões do grupo de pesquisa Eccoar/Aquário, o qual integram Regina e alguns dos jovens artistas presentes na mostra - ao mesmo tempo, a inclusão de Osmar Pinheiro, morto em 2006, é uma homenagem ao pintor.

 

Na primeira sala da exposição, a palavra Paisagem é formada por letras agigantadas moldadas em gesso branco. É o trabalho de Cristiana Camargo, que se refere de modo direto ao mote da mostra. Com a passagem do tempo e pela umidade, a obra vai se corroendo (e o signo), numa calma tensão: a partir do eixo renascentista, a paisagem ganhou no quadro uma ideia de certeza de um lugar à qual hoje já não é mais possível se apegar.

 

A obra de Cristiana dialoga, assim, na sala, com as três fotografias de Ana Mazzei, em que ela questiona a relação entre o horizonte, o espectador e o personagem colocado na foto (dentro de um parque com a cidade São Paulo ao fundo). Seguindo ainda na discussão, na pintura de Pinheiro e no vídeo de Ana Elisa Carramaschi a paisagem está encoberta em velaturas ou é quase transparência - e na videoinstalação de Adriana Ramalho, recortes de filmagens nos rios da Amazônia transformam a natureza em quase abstração.

 

Já as fotografias de Beatriz Toledo capturam a natureza fazendo uma "construção da imagem dentro de outra imagem", diz a curadora - e uma delas é citação, ela completa, ao célebre quadro Le Déjeuner Sur l"Herbe (1863), de Manet.

 

Trans_Imagem. Galeria Virgilio. R. Dr. Virgílio de Carvalho Pinto, 426, tel. 3061-2999. 2.ª a 6.ª, 10 h/19 h; sáb., 10 h/17 h (fecha domingo). Grátis. Até 27/2

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