"A Casa dos Artistas" não tinha script

Apesar dos créditos finais do programa indicarem a existência de uma roteirista. Patrícia Rubano fala em entrevista à Agência Estado que não havia roteirista e que ela era editora-chefe

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Por Agencia Estado
Atualização:

Ao final de A Casa dos Artistas na noite de domingo, os créditos subiram pela primeira vez e foi possível identificar quem eram os 106 profissionais que fizeram um sucesso histórico da TV popular brasileira. Entre eles, chamava a atenção a função de "roteirista", creditada a Patrícia Rubano. A estranheza explica-se: como foi um reality show, era no mínimo esquisito existir um script, um planejamento de texto. "Imagina, a gente não roteirizava", disse Patrícia, explicando que o crédito deveu-se a um equívoco de atribuição. Ela preferia que a tivessem chamado de editora-chefe. "Eu avisei: vai dar problema!", brincou. "Era um roteiro de edição da novelinha - o máximo que nós fizemos previamente foi, antes de começar o programa, um roteiro do que ia rolar: regras, situações, provas." Uma das regras pode ter sido quebrada: a Rádio Jovem Pan confirmou hoje ao site Terra que Alexandre Frota fazia diariamente ligações da casa por um telefone celular. A própria rádio teria fornecido o aparelho. A editora-chefe, vamos chamar assim (quando estava no Vídeo Show, da Rede Globo, seu contrato dizia que ela era "autora-roteirista"), nega qualquer orientação prévia na condução do plot de Casa dos Artistas. "Os participantes não tinham texto nem papéis", exclamou. Patrícia Rubano trabalhou dez horas por dia na edição da novelinha. Teve um dia de folga por semana durante três meses e meio. Tudo começava com a decupagem. Os assistentes de direção segundo ela, tornavam as fitas brutas - em geral, material de 4 horas a 4h30 de duração - em uma fita de no máximo 30 minutos. Essa era a matéria-prima de Patrícia. "Era uma industriazinha, tudo muito organizado", disse a editora, ainda rouca da festa que a equipe fez num bar da Vila Madalena, na noite de domingo. Nesta sexta, eles festejam de novo, no Blue Space. Agência Estado - Você jura que aquela cena em que o Supla chora, conversando com o Frota, não foi montada? Patrícia Rubano - Eu não sei se foi coincidência. O Frota era o maior ator do próprio papel. Empostava a voz na frente das câmeras. É um cara de TV, tem a manha. Ele ia chorar sozinho e ia falando, conversando com o nada. Mas a gente, de maneira nenhuma, montou uma interpretação. O fato de ele ter chorado pela primeira vez tinha a ver com o isolamento, era um momento de muita fragilidade dos participantes. Eu acredito nos sentimentos deles. Várias cenas foram feitas naquele lugar onde o Frota e o Supla conversaram, e nunca as câmeras estiveram tão bem montadas, com closes e ângulos diferentes. É difícil crer que foram conversar ali por acaso. Talvez tenham escolhido um "palco" mais oportuno. Se alguém estava ali mais preocupado com a atuação, com certeza era o Frota. E só. O Supla só tomava uns cuidados na hora de namorar, tinha a preocupação de fazer tudo discretamente. A escolha dos participantes foi um feliz acaso? Não, nós tivemos a preocupação de escolher perfis definidos. Escolhemos um "mano", uma patricinha, as moças de atributos físicos privilegiados, meio popozudas, mais um peladão do momento. O mano, que era o Taiguara, acabou não assumindo essa condição de mano. E teve a desconhecida, que foi a Bárbara, mas um pouco mais cabeça, mais engajada. Tivemos essa preocupação, de não colocar só mulher bonita e gostosa. E o troglodita? Ele também foi escolhido de propósito? Não sei, acho que ele estava meio ali na onda... No começo, também achei que o Frota era um casca-grossa, um cara barra-pesada. Achei que podia bater em alguém, mas acabou se mostrando um bom sujeito. E o Supla, que veio com a imagem do punk revoltado. A gente achou que ele, a qualquer momento, ia dizer: pronto, acabou! Mas acabou se mostrando um gentleman, um sujeito apaziguador e delicado. Mas vou ter de falar uma coisa: a gente teve muita sorte. Tivemos a Bárbara e o Supla, eles tiveram um romance na nossa novelinha. Aquele beijo no final não foi planejado, foi pura sorte. No começo, a coisa parecia que ia ficar meio tediosa, não tava engrenando muito. Mas depois a ação acelerou. A gente foi esquentando juntos. Já tinha programado as festas. O que aconteceu é que fomos caprichando mais na produção. A verdade é que a gente não esperava tanto sucesso. Quando viu, estava no meio de uma revolução. Foi um marco. Eu andava, ia para um lugar e via o Frota conversando com o Supla. Ia para outro lugar e tinha um monitor com as meninas. Ficava toda hora olhando, esperando. E quando saía de lá, saía curiosa para saber o que está acontecendo, louca para ver o que aconteceu no meio da noite. Toda a equipe vai continuar na ?Casa dos Artistas 2?? Vai ser no mesmo lugar? Acho que uma parte vai. A nova casa? Quem pode falar sobre isso é o Carelli (Rodrigo Carelli, diretor). Fala com ele. Acho que ficam o diretor, eu, os free-lancers, os técnicos.

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