Na entrevista que deu ao Estado, em outubro, quando Fora da Lei passou na Mostra de São Paulo, Rachid Bouchareb declarou-se surpreso. Como é que 50 anos depois de O Pequeno Soldado, de Jean Luc Godard, e A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo - que foram censurados na década de 1960 -, essas coisas ainda acontecem? "Essas coisas" são justamente as reações que seu filme que estreia hoje - a estreia oficial foi ontem, mas a maioria das salas não funcionou - provocou na França. Desde que foi exibido em Cannes, em maio, Fora da Lei, Hors la Loi, provocou um vendaval de críticas.Veteranos da Guerra da Argélia protestaram contra o filme, que, para eles, é uma distorção da história. A distorção deve-se ao fato de que o cineasta conta a luta pela independência da Argélia do ponto de vista de uma família de argelinos. Para Bouchareb, Indigènes, seu longa anterior, premiado em Cannes, em 2006 - um prêmio coletivo de interpretação masculina - , e Fora da Lei formam um díptico, como A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima na carreira de Clint Eastwood. Indigènes, ou Dias de Glória, termina em 1945 e Fora da Lei começa naquele ano. O segundo completa um ciclo, mas, apesar do formato, não se trata de um filme de gângsteres."É um filme policial em que os heróis são resistentes", define o diretor. "Em Cannes, muita gente escreveu que Fora da Lei é antifrancês, mas não é verdade. Trata de fatos históricos que provocam controvérsia, propondo uma outra versão. Muitos se incomodam com isso. Preferem que só a sua versão prevaleça." Bouchareb, de origem argelina, revela o que, afinal, ama na França - "É uma terra de liberdade, na qual um filme como Fora da Lei pode obter financiamento e ser feito."