A artista Ione Saldanha morre no Rio

Nascida no Rio Grande do Sul, a pintora e escultura morou até o fim da vida na Barra da Tijuca, no Rio. Sua grande marca foi a transposição da pintura para suportes leves e verticalizados, como ripas de madeira e bambus, uma invenção que chamou a atenção da crítica internacional

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Por Agencia Estado
Atualização:

Diferentemente de boa parte de seus conterrâneos, Ione Saldanha nunca andou em grupos, não se filiou a movimentos e pouco circulou pelo circuito expositivo. A artista plástica, que morreu na manhã do dia 25, de câncer ósseo foi, no entanto, figura reconhecida e premiada, presença forte no cenário artístico nacional em meados do século passado. Sua grande marca foi a transposição da pintura para suportes leves e verticalizados, como ripas de madeira e bambus, uma invenção que chamou a atenção da crítica internacional. Ela estava então de acordo com as idéias minimalistas dos anos 50 e 60. "Eu procurava algo que representasse o mínimo possível, queria o elemento mais simples, sem chassis, tela ou tachinhas, mas que tivesse corpo, volume", declarou ela na época da apresentação de suas ripas. Mas a grande busca de Ione foi pelo desenvolvimento de suportes e linguagens para suas cores. A artista contava que começou a pintar depois de conhecer um Matisse, em uma reprodução em preto-e-branco. Decidiu então buscar a cor em museus. Ela recordava o Museu de Belas Arte que, literalmente, a afugentou. Contava ter ficado horrorizada com os marrons e pretos da academia. Por isso, seu caminho foi exatamente o oposto de suas primeiras impressões. Ela acusava a falta de divulgação da pintura moderna, como responsável pela demora na transformação da arte por aqui. A exímia colorista trabalhou quase todo o tempo experimentando e chegou a momentos radicais. Em 1949, antes de partir para uma viagem à Europa, a pintora ateou fogo em dezenas de telas de sua coleção particular. Era uma espécie de protesto, por não ter museu, coleção ou galeria que guardasse suas criações, armazenadas na casa dos pais. Os vestígios desse ato silencioso (Ione não chamou a imprensa, nem colegas, que só muito tempo depois souberam da queima), serviu como ponto de partida para uma de suas principais individuais, Resumo dos 45 Anos de Pintura, uma mostra retrospectiva de sua trajetória, realizada concomitantemente, nas galerias Anna Maria Niemeyer, Paulo Klabin e Saramenha. Ione levou, até o final, uma vida muito simples. Nascida no Rio Grande do Sul, em 5 de julho de 1919, a pintora e escultura morou até o fim da vida na Barra da Tijuca, em uma casa que ela mesma projetou. Tinha poucos objetos e toda a sua louça, assim como seus lençóis e toalhas eram brancos. Os raros móveis de sua residência também eram de sua autoria. Não teve filhos e trabalhou até o final do ano passado. A última exposição de seu trabalho foi realizada em 1996, no Paço Imperial, no Rio. Seu corpo foi sepultado no mesmo dia 25, às 17 horas, no cemitério João Batista, em Botafogo, zona sul.

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