A aposta

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Por VERISSIMO
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Tinham jantado na casa de amigos e mais tarde, na cama, Maria perguntou a José: - Aquilo que você contou no jantar, é verdade? - O que, da aposta? - É. Pra mim você nunca tinha contado. - Contei não? Contei sim! E também, faz tanto tempo. - Você não achou que eu deveria saber? - Foi uma bobagem, Maroca. Daquelas coisas de mesa de bar quando já está todo o mundo meio alto... - Mas você apostou mesmo que a primeira mulher que entrasse no bar, você casaria com ela? - Apostei. E felizmente, a primeira mulher que entrou foi você, a mulher da minha vida, a mãe dos meus três filhos, minha querida esposa há 35 anos, 35 anos de felicidade e... - E se tivesse entrado outra? - Mas não entrou. - Mas se tivesse? Pela aposta, poderia ser qualquer mulher. Bonita, feia, branca, preta, amarela, manca, louca... - Claro que não. Se não fosse uma mulher linda como você, eu não manteria a aposta. Mas quis o destino que... - Não, Zeca. O destino não. O acaso. - Então tá: o acaso. Não é assim que acontecem todos os casamentos? As pessoas se conhecem por acaso, se apaixonam e se casam. O acaso é apenas um instrumento do destino. E o nosso destino era 35 anos de um casamento perfeito. - 35 anos, por acaso. Porque um dia eu entrei num bar pra tomar uma Coca-Cola. Está aí, devemos nossa vida a uma Coca-Cola, que, aliás, você pagou. E a uma aposta. Uma aposta, Zeca. - Já me arrependi de ter contado a história. Se não contasse, você nunca ficaria sabendo. - Mas agora eu sei. Só não sei como eu vou conseguir viver, daqui pra frente, sabendo. - Ora, Maria! Que diferença faz como nós nos encontramos? Se não fosse a aposta, nos conheceríamos de outra maneira. De qualquer jeito, nossa vida de casados seria exatamente igual. - Não, Zeca. Estou me imaginando naquela calçada, há 35 anos. Com calor, com sede, me perguntando: entro ou não entro num bar pra tomar uma Coca? - Entra no bar, Maria. - Entro ou não entro? Que vida eu teria se não entrasse no bar? Em quem eu esbarraria, na esquina, por acaso? Talvez um milionário, com quem me casaria, e hoje estaria vivendo num condomínio em Boca Raton? Talvez... - Entra no bar, Maria!

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