''A afeição entre os atores foi essencial''

Tom Hooper conta como conduziu o trabalho em O Discurso do Rei

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Por Ubiratan Brasil
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Em seu discurso de agradecimento, o diretor Tom Hooper fez os elogios de praxe ao elenco e produtores, mas ressaltou que a principal responsável pelo prêmio era sua mãe, que assistira a uma leitura da peça O Discurso do Rei e, empolgada, o convenceu a filmar uma versão. Em vista disso, nada mais natural que o cineasta fosse questionado, na sala de imprensa, sobre o próximo projeto indicado por ela. "Ainda não houve convite para uma próxima leitura, mas espero que aconteça logo", divertiu-se.A brincadeira, na verdade, foi um motivo para Hooper comentar sobre o verdadeiro dilema para os criadores e, de resto, toda a indústria cultura: como descobrir um projeto que possa agradar tanto ao público como à crítica? "Eu não acreditava na existência de obras-primas escondidas em gavetas ou sótãos", disse ele. "Para mim, o sistema funcionava por si só, com olheiros em toda parte à caça de potenciais sucessos. Se alguém escreveu um bom roteiro, as pessoas logo descobririam sua existência."Hooper conta que mudou de opinião ao relembrar, naquele momento, da trajetória de O Discurso do Rei. "Se minha mãe não tivesse acompanhado a leitura e me convencido a fazer um filme da peça, o texto provavelmente ficaria ignorado, pois a montagem acabou não acontecendo. E, se se tornou um êxito, foi graças ao meu trabalho, ao de Colin Firth, Geoffrey Rush, do restante do elenco, da equipe técnica. O que pretendo dizer é que a indústria do cinema precisa ter em mente que existem obras-primas ou mesmo histórias maravilhosas que estão por perto, abandonadas."Hooper é um homem alto, falante, cujas feições fazem lembrar James Cameron mais moço - daí ser sintomática a imagem da diretora Kathryn Bigelow, ganhadora do ano passado justamente contra o ex-marido Cameron, entregando o Oscar para Hooper. Kathryn e Cameron não mantêm boas relações e justamente o entrosamento foi considerado por Hooper o ponto crucial de seu filme.Segundo ele, a afeição criada com os atores (especialmente Firth e Rush) foi determinante. "Trata-se do DNA do filme", acredita. "Há muita bondade e compaixão na história e, ao mesmo tempo, um profissionalismo no trabalho. Creio que a câmera conseguiu registrar isso, pois o público notou."O diretor conta que iniciou o trabalho primeiro com Firth e Rush - Helena Bonham Carter chegou depois. "E, quando chegou, ela percebeu que já havia um vínculo muito forte entre aqueles dois personagens. Helena logo notou que a trama giraria em torno da relação entre o rei e seu auxiliar, não entre o rei e a rainha. Mesmo assim, ela foi brilhante no papel da esposa que ajuda o marido a resolver seu problema, ainda que, atrás das câmeras, Helena nos provocava dizendo que deveria ser uma história de amor entre um homem e uma mulher."Hooper, no entanto, temia que o filme se resumisse à trajetória do rei que venceu a gagueira. "Poderia ser a história de um homem que, no início, faz um discurso ruim e, no fim, faz outro, brilhante." Daí a importância novamente do entrosamento dos atores. "Era preciso que todos entrássemos na mente de um gago para quem o simples fato de escolher o que comer em um restaurante pode ser algo traumático."

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