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Zweig foi o grande retratista da velha Europa

Por Agencia Estado
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A obra de Stefan Zweig vacila sempre entre a sensibilidade aguçada e uma espécie contida de susto, combinação que fez dele um escritor muito popular na primeira metade do século 20. Foi talvez o grande retratista da velha Europa, da Viena imperial e dos últimos Habsburgo, embora muitos considerem seus livros algo românticos, ou mesmo, um pouco esquemáticos. Nascido em Viena, em 1881, recebeu do pai, um influente industrial judeu, uma formação sofisticada, dedicando-se não só à literatura, mas também à filosofia e à história. Começou a escrever desde muito cedo, primeiro colaborando com a imprensa, logo depois como tradutor de Baudelaire, Verlaine e Rimbaud. Muitos o consideram, mais que escritor, um tradutor admirável - e as biografias que escreveu nada mais seriam que traduções sensíveis de almas complexas. Seus primeiros poemas trazem uma influência marcante de Rilke e de Hofmannsthal, indicando o tom melancólico que viria a conservar nos textos para teatro (marcados, em geral, pelo choque que a 1ª Guerra nele provocou, fazendo nascer sua vocação pacifista); e também nas novelas (fortemente influenciadas pelo pensamento de Sigmund Freud, o que o levou a valorizar os instintos e a sexualidade em detrimento da lucidez e da razão). Zweig foi um viajante vagamente perdido e sempre insaciável - e a busca frenética de algo que não se pode nomear é, por fim, um tema recorrente em seus escritos. Com o crescimento do nazismo, transferiu-se para Londres. Passou a viajar pelo mundo. No Rio, conheceu sua segunda mulher, Elizabeth, uma jovem secretária inglesa. Nessas andanças, Zweig exercitou sempre a vocação de tradutor, ampliando a sensibilidade para as línguas estrangeiras e a capacidade de se surpreender com novos mundos e culturas. Stefan Zweig foi, sobretudo, um grande intérprete e retratista (para ele, a interpretação nunca se separava da biografia) - de Dostoievski, Balzac, Hölderlin, Nietzsche, Stendhal, Tolstoi, entre outros. Os retratos que traçou desses escritores são conhecidos por seu rigor psicológico, agudeza que perdeu, em parte, quando passou a se dedicar a biografias romanceadas. Praticou ainda, igualmente sem o mesmo brilho, o romance histórico. O suicídio de Zweig e Elizabeth, em 1942, envenenando-se na casa de Petrópolis em que passaram a viver, afora apontar para o desespero que sempre pulsou em seus escritos, além de sua angústia com a expansão do nazismo, traz a marca, inegável, de um evento literário, uma resposta, derradeira e irreversível, aos horrores que ao longo da vida ele, com sua sensibilidade esgarçada, foi levado a presenciar e a suportar.

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