"Xuxa e os Duendes 2", erros e acertos

Apesar de ser melhor do que o primeiro, o novo filme de Xuxa é repleto de defeitos técnicos e tem um enredo sabidamente banal. A certeza de sucesso dá o tom de um filme pobre, mas orgulhoso de si

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Por Agencia Estado
Atualização:

Demorou, mas Xuxa não ostenta mais a liderança das bilheterias na fase do cinema brasileiro que se iniciou com a retomada da produção, no começo dos anos 1990. Ela estava lá, instalada no trono com Xuxa e os Duendes, o primeiro da série, e aí veio Cidade de Deus, o filme que Fernando Meirelles adaptou do livro de Paulo Lins. Com 3,1 milhões de espectadores, Cidade de Deus bateu os 2,65 milhões que formaram a platéia pagante de Xuxa e os Duendes. Mas Xuxa continua no topo pelo acúmulo de títulos: Lua de Cristal, Xuxa Requebra, Xuxa Popstar. E ela agora vai à forra. Estréia amanhã em mais de 300 salas de todo o País Xuxa e os Duendes 2. A Globo Filmes e a distribuidora Warner, parceiras do projeto, estão garantindo ao filme a maior exposição para que a apresentadora volte ao pódio. Há boas e más notícias a respeito de Xuxa e os Duendes 2. A boa é que a parte técnica melhorou bastante e Xuxa e os Duendes 2 chega a exibir um cuidado bastante apreciável com a imagem. Captado em digital, com uma HD, câmera de alta definição, o filme beneficiou-se da pós-produção nos estúdios da Tele-Image. Mas houve problemas, claro: o diretor de efeitos da Tele-Image, Marcelo Siqueira, destaca limitações de tempo e orçamento que impediram o trabalho de alcançar um resultado mais apurado. "O filme foi feito de agosto para cá; tivemos apenas 40 dias de estúdio para fazer a pós-produção dos efeitos." Só para comparar, ele conta que a Tele-Image, que fez a mesma coisa no novo filme de Cacá Diegues, dispôs de um tempo muito maior para Deus É Brasileiro - sete meses, no mínimo, e um ano e meio de preparativos. Tempo e orçamento são fatores restritivos que nem o empenho e criatividade conseguem compensar, pelo menos integralmente, ainda mais num filme como esse, cheio de efeitos. A cena da destruição do castelo chega a ser constrangedora, de tão malfeita. Siqueira e o próprio dono da Tele-Image, Philippe Siaretta, chegam a referir-se ao castelo como de "R$ 1,99", para destacar quanto a falta de dinheiro foi restritiva para eles. Feito a toque de caixa, com US$ 1 milhão de orçamento, Xuxa e os Duendes 2 exigiria o dobro e até o triplo para sair nos trinques e também mais tempo de pós-produção. A boa notícia, portanto, é que a despeito das limitações, o filme dirigido por Paulo Sérgio Almeida e Rogério Gomes é tecnicamente bem razoável, quase bom. A contrapartida é a má notícia. Xuxa e os Duendes 2 é mais um típico filme de Xuxa Meneghel, com tudo o que isso representa. Ela está mais bonita do que no 1, justiça seja feita, e até sapeca um beijo que, visto de dois ângulos, revela um certo furor pouco habitual na apresentadora - beijo de boca aberta com o pai de sua filha, Luciano Szafir! De resto, a trama sobre fadas e duendes, formatada para abrigar discursos cheios de boas intenções sobre o direito às diferenças e ao valor do amor - são uns dez de cada, pelo menos -, continua duvidando da inteligência do espectador. Tudo é muito banal e reiterado para que a ´mensagem´ fique bem clara. Mas a má notícia ainda pode ser pior. Xuxa e os Duendes 2 consegue tornar feia (como?) uma deusa como Vera Fischer e o caos se instala na última cena, quando Ana Maria Braga faz um discursinho tatibitati, como se estivesse recitando "Batatinha quando nasce" no maternal. Apesar disso, a certeza do sucesso é tão grande que o final já anuncia Xuxa e os Duendes 3, com Suzana Vieira como "do mal".

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