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Woody Allen amarga fracasso de crítica e público

Além de derrapar nas bilheterias, seu novo filme, The Curse of the Jade Scorpion, recebeu uma enxurrada de críticas negativas como há muito não se via

Por Agencia Estado
Atualização:

Foi-se o tempo em que os filmes de Woody Allen eram um grande evento cinematográfico para os nova-iorquinos. Todos os anos, coincidindo com o fim do outono, era cena corriqueira na frente do Cinema Paris, região central da Manhattan, uma multidão se aglomerando com casacos pesados para ver a última do melhor cronista da cidade. Mas Allen mudou. Sem sua musa inspiradora e esposa, a atriz Mia Farrow; com a imagem arranhada, por causa do affair com a filha de Mia, a jovem Soon-Yi; sem a ajuda de sua fiel produtora e amiga Jean Doumanian (que agora o cineasta processa, por não pagamento de lucros), além da ausência dos seus maiores colaboradores, incluindo o diretor de fotografia Carlo DiPalma (trocado pelo chinês Zhao Fei), Allen, há dois anos, também mudou seus filmes de estação. Na sexta, em pleno verão americano, foi lançado seu 31.º longa, a comédia The Curse of the Jade Scorpion (A Maldição do Escorpião de Jade), ambientada nos anos 40. A famosa cena de filas dobrando a esquina evaporou-se, já que o estúdio DreamWorks lançou The Curse em 903 salas de cinema em todo o país. Esperava-se que a bilheteria para o fim de semana chegasse aos US$ 4 milhões. Rendeu menos que o projetado: US$ 2,5 milhões. Vai ser difícil criar entusiasmo desta vez: Allen, infelizmente, parece ter perdido também seu toque mágico. Há uma curiosidade para os brasileiros: as jóias que aparecem no filme são do Brasil, confeccionadas por encomenda pela H. Stern. Estrelada por Allen, Helen Hunt, Dan Aykroyd, Charlize Theron e (pasmem!) Elizabeth Berkley (a stripper de Showgirls), The Curse é uma comédia com cenografia de época requintadíssima, mas de uma piada só. E chatinha, por sinal. Por conta dessa falta de inspiração, o cineasta, pela primeira vez em vários anos, experimenta uma cacetada da crítica. "Quando Voltan coloca Allen e Helen no mais profundo nível de hipnose, ele também carrega o filme para o mesmo estado", escreveu o crítico do Los Angeles Times. Voltan (David Odgen Stiers) é o hipnotizador que coloca, numa noite de fraternização, dois funcionários de uma mesma empresa de seguros em transe. C.W. Briggs (Allen) acabou de desvendar o roubo de um Picasso, mas Betty Ann Fitzgerald (Helen), recém-contratada pelo dono da empresa (Aykroyd) e com quem ela mantém um caso, não se impressiona com o feito. Pior: ela abomina o comportamento de Briggs e seu método de trabalho. Durante o estado hipnótico, feito com a ajuda da jóia que dá título ao filme, ambos se apaixonam. Terminada a brincadeira, Briggs e Betty são constantemente manipulados por Voltan para o roubo de jóias valiosas (o escorpião de jade e as jóias que Briggs rouba do cofre de uma socialite são as da H. Stern brasileira). Basta uma ligação do hipnotizador e as palavras mágicas Madágascar e Constantinopla, para a dupla entrar em transe e responder aos comandos do escroque. Uma das pessoas que flagram a mudança de Briggs para o estado hipnótico é a estonteante Laura Kensigton (Charlize Theron), filha da socialite assaltada por Briggs. Allen, trabalhando pela segunda vez com Charlize, criou para a atriz uma personagem que é misto de Lauren Bacall e Veronika Lake. A presença de Charlize é a única que consegue manter o público longe do estado catatônico. Mas ela não fica na tela por muito tempo. Frangalhos - A infame Elizabeth, como uma secretária sexy, é a epítome de como o humor de Allen está chauvinista neste filme. "A economia pode estar em frangalhos, mas esse corpo nunca cairá", diz Briggs, admirando o lado sul da anatomia dela. Já Helen é um desastre. Allen reservou à vencedora do Oscar (por Melhor É Impossível) os diálogos mais longos e sem graça. Quando o espectador já matou a charada da piada, a atriz ainda está terminando de contá-la. A comédia Trapaceiros de Meia Tigela (Small Time Crooks), lançada no ano passado nos EUA e que iniciou a "fase verão" de Allen, deve finalmente chegar aos cinemas brasileiros no mês que vem, via Europa Filmes. No momento, Allen roda mais uma sátira: Hollywood Ending. E vêm mais mudanças por aí. O diretor está quebrado e economizando o que pode. Por isso, as atrizes de seu novo filme vieram da TV e ainda cobram cachê mais em conta. E elas são: Debra Messing (de Will & Grace), Téa Leoni (The Naked Truth) e Tiffani-Amber Thiessen (Barrados no Baile). Mas Barrados no Baile, Allen?

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