Woody Allen, que abre Cannes pela 4ª vez, mostra 'Café Society'

Festival estende o tapete vermelho para comemorar sua 69.ª edição

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Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

CANNES - Woody Allen faz, mais uma vez, a festa de abertura do Festival de Cannes. Pela quarta vez, após Contos de Nova York, Dirigindo no Escuro e Meia-Noite em Paris, cabe-lhe a honra de inaugurar, nesta quarta, 11, o 69.º Festival de Cannes. O novo filme do diretor chama-se Café Society e conta a história de um aspirante a escritor que chega a Hollywood, nos anos 1930, disposto a fazer carreira no cinema. Não demora muito e ele está integrado ao café society de Los Angeles. Arte e mundanidade. Woody Allen sabe do que está falando. Ao longo de sua carreira de mais de 50 anos, ele se consolidou como um valor da indústria do cinema de autor.

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Sob um esquema de segurança máxima, que vigora em toda a França diante de ameaças de atentados, o Palais des Festivals, sede do Festival de Cannes, recebeu nesta terça-feira, 10, ordem de ser esvaziado e quem estava no local foi orientado a deixar o local “sem pressa” por causa de “motivos técnicos”. Funcionários e jornalistas tiveram que esperar 30 minutos para retornar ao palais e passaram por inspeção de seguranças.

A ideia de a França criar um festival começou ainda nos anos 1930, como uma reação ao de Veneza, que surgira em 1932. A Mostra d’Arte Cinematografica di Venezia nasceu ligada à Bienal de Arte. Depois de anos de estudo e preparação, a França escolheu a ensolarada Côte d’Azur para sede. O primeiro Festival Internacional do Filme de Cannes deveria ter sido realizado em 1939, mas a eclosão da 2.ª Guerra lançou o projeto por terra. Só em 1946, após a derrota do nazi-fascismo, nasceu oficialmente o Festival de Cannes. O mundo vivia um momento de euforia. As utopias pareciam, de novo, possíveis. 

Acabamento. Tapete vermelho quase pronto Foto: Alberto Pizzoli|AFP

Cannes estende o tapete vermelho para comemorar sua 69.ª edição - e os 70 anos. O primeiro festival ocorreu em setembro de 1946 e, depois, veio sendo deslocado até maio. Ao longo de sete décadas, evento só não se realizou em 1948 e 50, por falta de recursos. Em 1968, foi interrompido por diretores (François Truffaut, Jean-Luc Godard, Louis Malle, Roman Polanski) que responderam à mobilização dos estudantes que tentavam parar a França. A festa dos 70 anos de Cannes é especial para o cinema brasileiro. Há oito anos, o Brasil não participava da disputa pela Palma de Ouro. A última vez foi com Linha de Passe, de Walter Salles, e o filme valeu a Sandra Corveloni o prêmio de atriz, em 2008. Este ano, o Brasil volta à competição com Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, que Cahiers du Cinéma já listou entre os filmes mais esperados do ano.

Após O Som ao Redor, um dos filmes brasileiros mais influentes das últimas décadas, Kleber Mendonça encara a questão imobiliária, visceral no Recife atual. A orla da capital pernambucana virou reduto de espigões. Na ficção de Aquarius, uma mulher resiste a vender seu casarão. As imobiliárias respondem com agressividade. O poder do dinheiro em discussão, a sociedade de classes. O Brasil do impeachment - que sai ou não sai? Ela, a resistente, da ficção, é interpretada por uma das grandes estrelas da história do País, Sonia Braga, eterna Dona Flor. Sonia já pisou no tapete vermelho de Cannes com Hector Babenco (O Beijo da Mulher Aranha) e Robert Redford (Rebelião em Milagro). Antes disso, já havia brilhado no festival com Arnaldo Jabor, cronista do Estado. O filme era Eu Te Amo. Como será o retorno da diva à Croisette? A expectativa é grande.

Thierry Frémaux segue sendo o diretor artístico, responsável pela seleção oficial, que inclui os filmes da competição e os da mostra Un Certain Regard/Um Certo Olhar. É o segundo ano de Pierre Lescure, ex-Canal Plus, na presidência. Na coletiva de apresentação dos filmes, ele disse que aprendeu com os erros do ano passado. Lescure veio do mercado, mas mantém a tradição de Cannes, que equilibra veteranos e novos talentos na disputa pela Palma de Ouro. Nos anos 1940 e parte dos 50, ainda não havia Palma e Cannes outorgava o Grand Prix. Kleber Mendonça é um dos quatro diretores que participam pela primeira vez da competição, em 2016. Com ele, estão estreando na disputa da Palma Maren Ade, Alain Guiraudie e Cristi Puiu. Esse quarteto (fantástico?) concorre com autores que incendeiam o imaginário dos cinéfilos - Pedro Almodóvar, Ken Loach, irmãos Dardenne, Olivier Assayas, Bruno Dumont. Também na disputa estão representantes de uma nova geração - Xavier Dolan, Jeff Nichols, Nicolas Winding Refn. 

Na entrevista que deu ao Estado, Kleber disse que sua grande emoção está sendo integrar a seleção com o holandês Paul Verhoeven, que volta a Cannes mais de 20 anos depois de Instinto Selvagem com Elle. Na sua edição nas bancas, Cahiers du Cinéma elogia Elle, rodado na França com Isabelle Hupppert, que já venceu duas vezes o prêmio de interpretação, por filmes de Claude Chabrol e Michael Haneke. É a 20.ª vez que filmes com Isabelle integram a competição. A festa do cinema vai até dia 22, quando o júri presidido por George Miller, de Mad Max - Estrada da Fúria, vai outorgar a Palma de 2016. Para quem?

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CONCORRENTES

Toni Erdmann Maren Ade 

Julieta Pedro Almodóvar 

American Honey Andrea Arnold

La Fille Inconnue Jean-Pierre e Luc Dardenne

Personal Shopper Olivier Assayas 

Juste la fin du monde Xavier Dolan 

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Paterson Jim Jarmusch

Rester vertical Alain Guiraudie 

Aquarius Kleber Mendonça Filho 

Mal de Pierres Nicole Garcia   I, Daniel Blake Ken Loach

Ma' Rosa Brillante Mendoza 

Bacalaureat Cristian Mungiu 

Loving Jeff Nichols 

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Agassi Park Chan-Wook 

The Last Face Sean Penn 

Sieranevada Cristi Puiu 

Elle Paul Verhoeven 

The Neon Demon  Nicolas Winding Refn 

Ma Loute Bruno Dumont 

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