Wood&Stock leva platéia do Cine-PE a rir e aplaudir

Tiras de Angeli inspiram os muitos momentos criativos da animação longa de Otto Guerra, Wood&Stock, Sexo Orégano e Rock n´ Roll

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Por Agencia Estado
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Pode ser efeito da comida, do clima, mas a libido anda solta no 10.º Cine PE - Festival do Audiovisual de Pernambuco. Após a orgia do vídeo O Diabo no Copo de Leite, segunda à noite, na terça chegou o curta, em competição, Deu no Jornal, de Yanko del Pino. O verbo ´Deu´, no título, indica aquilo mesmo que você está pensando. O diretor faz uma montagem de anúncios de acompanhantes publicados em jornais. Morena isso, loira aquilo, nissei, coroa - seguem-se as especificações e as habilidades de cada uma. A montagem vai num crescendo que simula o sexo, com direito a gemidos na trilha sonora, e acaba numa ejaculação. Esse Yanko não é mole. Veio em seguida, também na competição, Vermelho Rubro no Céu da Boca, de Sofia Federico, cujos méritos se resumem à fotografia de Antônio Luiz Mendes e à bela locação em que se passa a história do velho e da garota separados por um rio, que representa o tempo, e as rosas que ele lança às águas na tentativa de seduzi-la. Animação pesada e underground Adeus aos curtas de terça, que não deixaram saudade, e instalou-se a competição com o filme gaúcho - perdão, brasileiro - Wood&Stock, Sexo Orégano e Rock n´ Roll, de Otto Guerra. É uma animação, gênero pouco contemplado pelo cinema brasileiro, exceto nos curtas. A animação longa é que é rara e mais raro ainda é que integre a mostra competitiva de um festival como o do Recife. Otto subiu ao palco do Cine-Teatro Guararapes para dizer que estava nervoso, ansioso, mas, enfim, se o filme não fosse bem recebido pelo público ele sempre poderia tentar a sorte em Gramado. Otto Guerra é a prova de que santo de casa não faz milagre. Suas animações passam meio que em brancas nuvens em Gramado. No Recife, viram a festa do público. Arraial, que ele fez para o projeto coletivo Sete Vezes Canudos, teve muitos aplausos no festival da serra gaúcha. No Recife, recebeu verdadeira consagração. A cena repetiu-se com Wood&Stock. O filme foi o mais aplaudido, até agora. Você pode achar que ele é longo, com problemas de ritmo, mas a história adaptada das tiras com os velhos hippies criadas por Angeli - que veio prestigiar a exibição - tem momentos criativos e provocativos e a platéia tinha engasgos de tanto rir. Personagens definidos como corretamente impolíticos, Wood e Stock estrelam uma animação pesada e underground, nos antípodas (no traço e no conteúdo) daquilo que faz a Disney, por exemplo. A montadora que acompanhava o diretor no palco fez a ressalva - o filme ganhou censura até 18 anos. Pediu aos menores desacompanhados que saíssem da sala. A garotada vibrou. Era o filme que queriam ver. Há até uma piada sobre isso em Wood&Stock. Um amiguinho chega para o filho do hippie transviado e pergunta se é verdade que, na casa dele, vive todo mundo nu. O pirralho responde amuado que é verdade, pressentindo o deboche. O outro dispara: "Cool, posso morar com vocês?" O público ainda ria das piadas de Wood&Stock quando começou, imediatamente a seguir, o documentário que Evaldo Mocarzel, o diretor de Do Luto à Luta e À Margem do Concreto, realizou sobre o Congresso Brasileiro de Cinema, o CBC, que ocorreu no Recife, em dezembro, para discutir as grandes questões do cinema no País. Mocarzel fez um filme de montagem cujo fio condutor é uma apresentação da Banda Sinfônica do Recife, conduzida pelo maestro Nenéu Liberalquino. O maestro é anão e Mocarzel o transforma numa metáfora do próprio cinema brasileiro, que é grande, apesar da pouca estatura no próprio mercado. O filme tem um conceito forte. Discute tudo, do mercado às fontes de financiamento. Mocarzel tinha uma pedreira nas mãos. Tirou dela um filme (em digital) que vai além do institucional. Basta comparar com Fora do Eixo, vídeo de Kátia Mezel, também visto no Recife, que discute as mesmas questões, mas sem a mesma força do de Mocarzel. O repórter viajou a convite da organização do festival

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