Western árabe na tela do festival de cinema suíço

Zaína, Cavaleira do Atlas, de Bourlem Guerdjou, é um libelo pela emancipação feminina, em produção franco-árabe

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Por Agencia Estado
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Muito antes de Bush envenenar as relações dos EUA com os árabes, os westerns americanos tinham também admiradores no Magreb (norte da África). Tanto que, conta o diretor Bourlem Guerdjou, foi seu pai argelino quem o iniciou nesse gênero. Francoargelino, Guerdjou criou o que pode ser o primeiro western árabe, com o filme Zaína, Cavaleira do Atlas, exibido com sucesso para sete mil expectadores na Piazza Grande de Locarno. Trata-se de uma espécie de homenagem a John Ford, só que o duelo de revólveres é no sabre, os heróis usam turbante e os ladrões de cavalos atacam nas montanhas do Atlas, porém, foi um especialista de Hollywood quem deu uma ajuda para a filmagem dos cavalos na temperatura escaldante nas montanhas e nas dunas do deserto. Utilizado no lugar dos camelos, cada cavalo consome 40 litros d´água por dia, obrigando a produção a providenciar caminhões cisternas. No filme, é uma mulher que derrota os peões numa importante e legendária corrida de cavalos nos arredores de Marrakesh, no Marrocos. É falado num bom francês da Comédie Française sem qualquer sotaque acaipirado. Alguns críticos gostariam que o filme, para ter maior impacto, fosse falado em árabe, mas feito por um diretor filho de pai imigrante, com dupla nacionalidade e bilíngüe, nada de mais ter feito o filme no idioma da ex-metrópole. Zaína, Cavaleira do Atlas, apesar de inspirada no western e com happy-end hollywoodiano, é um belo filme franco-árabe. A imigração está mudando a cultura francesa, coisa já evidente na música, e no último Festival de Cannes. A história de Zaína, é inspirada nos contos orientais, com uma contribuição francesa - Zaína não é uma mulher submissa, ela é voluntariosa e independente. Na questão do respeito da cultura dos imigrantes e sua integração nos países de acolha, sempre surgem esses aspectos contraditórios. Guerdjou é contra o casamento forçado das mulheres árabes, que muitos pais imigrantes continuam praticando na França. Seu filme, diz ele, é para encorajar a libertação feminina. Na produção indiana contra o colonialismo inglês, havia uma nota positiva da cultura inglesa - o fim do costume indiano de se queimar também a viúva no enterro do marido. O novo rei marroquino proibiu recentemente a prática tradicional dos maridos repudiarem suas mulheres. ?Zaína é um conto oriental - diz o diretor Guerdjou - com uma mensagem em favor da emancipação da mulher. Zaína controla seu destino e se liberta. Isso com o objetivo de passar essa mensagem aos jovens - a de que as tradições podem mudar e que o conto usado no filme pode ajudar numa evolução nos costumes dos jovens árabes do Magreb ou vivendo na França?.

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