Walter Salles: a América Latina precisa se conhecer

Ao Estado, diretor fala do "frio na barriga" de concorrer em Cannes e diz que a acolhida favorável a Diários é animadora

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois da calorosa recepção em Cannes a Diários de Motocicleta, Walter Salles conversou ontem, rapidamente, com a reportagem do Estado. Críticos franceses e ingleses já publicaram resenhas favoráveis e o primeiro fruto é que o filme deve estrear na Itália com 200 cópias - quase o triplo das 68 cópias com que estreou no Brasil. O diretor não faz outra coisa senão atender aos jornalistas de todas as nacionalidades que procuram sua assessoria. Está cansado, mas feliz. Considera seriamente a possibilidade de eclipsar-se, indo para um lugar onde ninguém possa encontrá-lo. "Um lugar principalmente sem celular", observa. E que lugar é este? "A Guatemala", ele brinca. Mais de 200 mil espectadores no primeiro fim de semana brasileiro, o filme mais aplaudido nas sessões de imprensa aqui em Cannes, críticas elogiosas. Já dá para respirar aliviado com Diários de Motocicleta? Walter Salles - Cada dia é um dia e é verdade que o filme vem cumprindo seus objetivos. Todos nós da equipe entendemos que Diários era algo muito delicado e nos comprometemos a fundo. Acho que agora o filme está mais decantado por mim e posso falar com mais serenidade sobre essa acolhida. Estar aqui em Cannes concorrendo dá um frio na barriga. Já estive como jurado, mas é diferente. A competição é sempre estressante, mas a acolhida favorável é um dado animador. O que vai ocorrer daqui para a frente é com os deuses do cinema. Este filme muda alguma em sua vida, em seu projeto de cinema? Antes me considerava um diretor brasileiro e agora, sem deixar de ser brasileiro, tenho mais consciência de ser um cineasta latino-americano. A retomada desta viagem de 50 anos também me fez ver que os problemas continuam os mesmos. A América Latina precisa, principalmente, começar a se conhecer. Por exemplo, sou grande fã do cinema argentino atual. Por que seus filmes não passam ou passam tão pouco no Brasil? A troca é fundamental. Só com conhecimento vamos aprender a viver com nossas diferenças e adquirir forças para lutar por transformações que são necessárias. Robert Redford, que iniciou o projeto, não veio a Cannes para apoiar Diários na competição. Decepcionado? Ele já havia avisado que não poderia vir. Mas o Redford vai participar da campanha de lançamento do filme em toda a América Latina e nos EUA. Foi ele quem deu a idéia de integrar a Poderosa à campanha, itinerando com a moto. O filme estréia em junho em Buenos Aires e Havana. Nos EUA, fica mais para o fim do ano. Embora esteja trabalhando atualmente na montagem de Dark Water, pretendo acompanhar todos esses lançamentos. Diários é resultado de um trabalho de cinco anos. Tem de ser tratado com carinho. Não pode ser abandonado à própria sorte.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.