PUBLICIDADE

"Vôo 93" retrata o 11 de Setembro por seus heróis anônimos

"Vôo United 93", de Paul Greengrass, chega aos cinemas brasileiros com a estréia americana de "World Trade Center", o novo filme de Oliver Stone, poucos dias antes que se completem os cinco anos do fatídico 11 de setembro

Por Agencia Estado
Atualização:

Quatro aviões decolaram com a missão de atingir alvos civis e militares nos EUA, no fatídico 11 de setembro de 2001, há quase cinco anos. O mundo não foi o mesmo depois que três daqueles aviões atingiram o alvo - dois chocando-se contra o World Trade Center, em Nova York, e o terceiro atingindo o Pentágono. O quarto, o vôo 93 da United Airlines, foi desfechado contra o Capitólio, em Washington, mas não chegou lá. Um movimento dos passageiros e tripulantes impediu que o ataque se concretizasse. Pode-se apenas supor o que foram aqueles 90 minutos de terror a bordo do vôo 93. Em Cannes, onde foi mostrar o filme "Vôo United 93", o diretor Paul Greengrass perguntou: "Quem de nós não pensa nesse dia e se questiona como deve ter sido e como reagiria, se estivesse lá?" Ninguém sabe exatamente o que aconteceu. Os poucos registros que sobraram foram telefonemas que as pessoas a bordo puderam fazer, despedindo-se de seus familiares. O filme é obra da imaginação, portanto, mas Greengrass admite que, desde o começo do projeto, seu objetivo foi chegar "a uma verdade plausível" sobre fatos dolorosos. Para ele, qualquer tentativa de interpretação do mundo atual passa pelos escombros das torres Gêmeas. Greengrass precisou de tempo para pesquisar Greengrass imediatamente percebeu o potencial do 11 de Setembro para o cinema, mas precisava de tempo - para pesquisar, para criar certo distanciamento, para investigar seus desdobramentos. "Vôo United 93" chega aos cinemas brasileiros com a estréia americana do novo Oliver Stone. Nenhum dos dois diretores apóia o discurso antiterror do presidente Bush, mas crêem na necessidade de "não esquecer". Com "A Supremacia Bourne", em 2004, Greengrass confirmou o novo modelo de filme de espionagem que tende a tornar "007" obsoleto - vamos ver como o novo James Bond encara o problema, aproveitando a mudança do ator Daniel Craig. Dois anos antes, com "Domingo Sangrento", ele reconstituíra, sob a forma de uma reportagem dramática, o trágico 31 de janeiro de 1972, quando manifestantes irlandeses foram mortos pelas forças inglesas de ocupação. É um tipo de cinema eficiente, mas que desperta polêmica. Em Cannes, os críticos disseram que o cinema político de Greengrass é demagógico e manipulador. Não deixam de ter razão. Não é, como diz o diretor, um filme "com arcos de desenvolvimento dos personagens". Eles são apresentados no aeroporto e, na seqüência, o vôo de 90 minutos é mostrado em tempo real. Os familiares de quase todas as vítimas apoiaram a realização e contribuíram com suas lembranças na elaboração do roteiro. Há o desespero das pessoas que sabem que vão morrer, há o movimento que cresce entre elas, já que sabem dos outros atentados, para impedir que esse ocorra. E há os esforços da torre de controle aéreo, seguindo o vôo 93. Greengrass usou atores pouco conhecidos para tornar os personagens mais convincentes. São vítimas e mártires. Apesar das críticas que se podem fazer a "Vôo United 93", difícil é ficar imune ao impacto do novo filme de Paul Greengrass. Resposta é política Falta pouco para que se completem cinco anos do fatídico 11 de setembro de 2001, quando o terror islâmico levou a Jihad para o território dos EUA. Havia a suspeita de que Hollywood retaliasse, fazendo filmes de ação para reforçar o preconceito contra os árabes. O que tem se verificado é outra coisa. Hollywood respondeu com a politização de sua produção. Stephen Gaghan e George Clooney fizeram "Syriana", Steven Spielberg construiu uma poderosa trilogia para debater esses novos EUA paranóicos e guerreiros ("O Terminal, Guerra dos Mundos" e "Munique"). Os primeiros filmes a tratar diretamente do 11 de setembro em Hollywood chegam agora - o de Paul Greengrass e "World Trade Center", de Oliver Stone, dia 29. Antes deles, só Michael Moore usara a data para criticar George W. Bush em "Fahrenheit". Vôo United 93 (United 93, Reino Unido-EUA/2006, 90 min) - Drama. Dir. Paul Greengrass. 14 anos. Em grande circuito. Cotação: Regular

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.