Vida de Debret vira filme de bonecos

Documentário dirigido por Jom Tob Azulay conta a história do artista francês que chegou ao Brasil em 1816, incumbido de reproduzir personagens e cenas importantes da vida no Império de D. João VI

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Por Agencia Estado
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A vida e a obra do artista plástico Jean-Baptiste Debret virou um filme de bonecos. É um documentário, dirigido por Jom Tob Azulay, em fase de finalização, que será piloto da série Um Olhar Francês sobre o Brasil, uma reflexão sobre a influência da cultura francesa no Brasil. "Por isso, nada melhor que começar com Debret, um artista mais conhecido aqui que lá", explica Azulay. "Para nós, ele é importante porque foi o primeiro a nos dar algum tipo de identidade nacional, com os desenhos e pinturas que fazia para a nobreza ou para ilustrar seus livros de viagem." Debret chegou ao Brasil em 1816, com a Missão Francesa, grupo convidado pelo rei D. João VI para incentivar as artes da colônia que acabava de virar Reino Unido. Foi nomeado pintor oficial da história, cargo que o incumbia de reproduzir personagens e cenas importantes da vida oficial. Debret cumpriu a tarefa e foi adiante. Saiu pelas ruas e matas da cidade retratando o que via, os senhores e senhoras em séquitos de escravos, a fauna e a flora exuberantes e os costumes brasileiros. Reuniu tudo num volume, Viagem Pitoresca ao Brasil, lançado quando ele voltou à França, mas deixou centenas de obras esparsas. A maior parte dos desenhos e gravuras de Debret ficou no Brasil (o Museu da Chácara do Céu, no Rio, tem a maior coleção), praticamente o que existe sobre os personagens e costumes dos primeiros anos do País. Ao contar sua história, Azulay preferiu utilizar bonecos criados por Gabriela Bardy, do grupo mineiro Sobrevento, e obras de Debret (ou desenhos baseados em seus trabalhos) como cenários inseridos por computador na montagem. "Não quis simplesmente filmar os quadros ou a iconografia da época e achei que, se usasse atores, seria mentiroso demais", diz o diretor, que filmou as cenas com os bonecos em quatro dias em junho, pintando de azul o fundo do estúdio e a roupa dos manipuladores, para facilitar a inclusão dos cenários pela técnica chamada chroma key, usada há décadas na televisão. "Cada boneco é manipulado por duas pessoas que não serão vistas no filme pronto." Para contar a história de Debret, Azulay e o professor de artes visuais Alfredo Griecco criaram um roteiro em que a musa Clio relembra com ele sua vinda para o Brasil. Dom João VI, d. Pedro I, José Bonifácio de Andrada e Silva (o Patriarca da Independência) e o escravo Francisco, que colhia nas matas as plantas que seu amo desenharia, são personagens recriados em bonecos. As cenas reproduzem a criação da Escola Imperial de Belas Artes, do pano de boca do Teatro São João (com motivos alusivos ao novo País) e as intrigas da corte por causa do ciúme que Debret provocou em artistas portugueses já estabelecidos. Empatia - O protagonista será dublado pelo ator francês Stephane Brodt, radicado há pouco no Brasil, mas já premiado pela Shell como melhor ator de 1998, num monólogo sobre Artaud. O filme tem ainda trilha sonora de Edgard Duvivier, que pesquisou a música da época e compôs um lundu a ser dançado por Debret e Clio. "Procurei criar algo parecido com o que havia nas primeiras décadas do século passado e usei instrumentos atuais até para criar empatia com o público", adianta. O documentário tem orçamento de R$ 100 mil, patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), através da Lei do Áudio Visual e apoio dos Museus Castro Maia e Nacional de Belas Artes. Azulay pretende ainda se debruçar sobre a obra de Augusto Comte, Jean de Lery (que veio com Villegagnon, na invasão francesa do século 17), Levi-Strauss e Le Corbusier. "Com exceção de Comte, são artistas que tiveram parte de sua obra no Brasil", lembra o diretor. "No caso de Comte, ele estará na série por causa da sua importância na formação do Brasil contemporâneo."

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