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Verbas de estatais agora opõem cineastas e TV Globo

A presidente do Congresso Brasileiro de Cinema, Assunção Hernandes, acusa a emissora de manipular o debate para desestabilizar a Secom

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois da tempestade, mais tempestade. Após o intenso debate surgido em torno das regras de contrapartida social das estatais sob o governo Lula, parecia que todo o combustível de polêmica fora queimado. Mas uma carta da presidente do Congresso Brasileiro de Cinema, Assunção Hernandes, aos seus associados (entidades cinematográficas de todo o País), traz nova sombra à questão, criando uma oposição entre televisão e cineastas. Assunção, que num primeiro momento saudou a decisão do diretor Cacá Diegues de atacar o que chamou de "dirigismo cultural", faz em seu texto, distribuído anteontem, uma acusação grave. Baseada em uma "análise mais fundamentada a partir de informações privilegiadas", a presidente informa aos seus associados que as Organizações Globo manipularam a opinião pública no caso em questão para auferir benefícios financeiros. "A TV Globo era o único dos canais que não haviam aceito os novos procedimentos da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), introduzidos pelo ministro Gushiken, segundo os quais se estabelecia o montante correto ao qual o market share da emissora fazia jus, ou seja 50% do bolo total da verba publicitária, e não os 75% que ela vinha recebendo indevidamente", afirma o texto. "Além disso, o ministro também suprimiu o chamado BV, bônus de venda, que é uma espécie de gratificação que a emissora repassa às Agências, com isso conseguindo a Secom levar a uma grande economia para os cofres públicos", escreve Assunção. O Estado pediu, na segunda-feira, a posição oficial da TV Globo sobre a questão, por meio de sua Assessoria de Comunicação, mas não obteve resposta. Assunção Hernandez foi localizada ontem pela reportagem em Fortaleza, no Ceará, onde participa do festival de cinema local e articula a realização do 5.º Congresso Brasileiro de Cinema, em novembro, naquela cidade. "Não foi essa informação que orientou a ação do cinema no caso", ela explicou. "Os diretores que iniciaram o debate, como o Cacá Diegues, estavam preocupados com a questão da liberdade de expressão, mas a TV Globo agiu com o interesse de balançar, de questionar o ministro Gushiken", disse. Segundo sua avaliação, a "TV hegemônica" tinha interesse em criar uma turbulência na área, para enfraquecer o governo e fortalecer-se nas suas reivindicações. "E o cinema acabou oferecendo a oportunidade para isso, e recebeu aquela cobertura desproporcional, que levou o presidente Lula a reunir extraordinariamente os dois ministros, da Cultura e da Secom, ordenando que solucionassem a crise."

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