Veneza vaia filme inglês sobre ditadura argentina

Com Emma Thompson e Antonio Banderas no elenco, Imagining Argentina foi recebido aos gritos de "vergogna!"

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Por Agencia Estado
Atualização:

O Festival de Veneza propôs ontem uma espécie de painel temático sobre a Argentina: dois filmes de realizadores portenhos, um na mostra contracorrente (La Quimera de los Heroes, de Daniel Rosenfeld), outro na Semana da Crítica (Ana y los Otros, de Celina Murga), e um terceiro na competição principal (Imagining Argentina, do britânico Christopher Hampton). Os dois primeiros são exemplares do jovem cinema argentino, cheio de energia e criatividade. Filmes pequenos, baratos, realizados com gana e paixão. Um fala de um abnegado que resolve treinar a primeira equipe de rugby entre os indígenas do país. Outro é a história de uma garota que sai atrás de um rapaz de quem gostou. Histórias simples, bem contadas, tocantes, pelo menos para quem não está contaminado pelo cinema narrativo clássico. Já a produção de bandeira britânica Imagining Argentina, uma inacreditável macumba para turistas trabalhada sobre o nobre tema dos desaparecidos durante o regime militar, recebeu merecida vaia da platéia, que se manifestou aos gritos de "vergogna!", palavra reservada pelos italianos aos filmes que mais os desagradam. A trama - pasme - fala de um diretor de teatro (Antonio Banderas) que se torna vidente quando sua mulher (Emma Thompson) é presa pelo regime militar. Banderas monta um pátio dos milagres no jardim de sua casa e, segurando nas mãos das pessoas, consegue "ver" o que aconteceu com seus parentes desaparecidos. Muitos argentinos presentes ao Lido ficaram revoltados com o barateamento da luta das mães da Praça de Maio e a redução de uma resistência histórica a clichês implausíveis. Durante a coletiva, a equipe do filme permaneceu o tempo todo na defensiva. De maneira monocórdia, tanto Emma Thompson quanto o diretor Hampton e o autor do livro que deu origem ao filme, Lawrence Thornton, repetiram ad nausean que o tema era polêmico, daí as reações desencontradas. Só isso. O problema, claro, não é o tema e sim a maneira de tratá-lo. Banderas, esperto, não veio a Veneza.

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