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Velhos rabugentos seguem a trilha de ‘Se Beber, Não Case’

Cinco vencedores do Oscar conseguem fazer alguma diferença na comédia ‘Última Viagem a Vegas’

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

No inédito Trapaça, Robert De Niro aparece sem crédito, no papel de um gângster de Las Vegas que é atraído pelo trapaceiro Christian Bale para abrir uma rede cassinos em Nova Jersey. O negócio não dá certo – mas você terá de esperar até dia 23, quando o filme de David O’Russell estará estreando, para saber por quê. Todos os caminhos conduzem a Vegas. O próprio De Niro, agora creditado, integra o quarteto de protagonistas de Last Vegas, rebatizado como Última Viagem para Vegas nos cinemas brasileiros. Para Vegas também viaja o Leandro Hassum de Até Que a Sorte nos Separe 2. Convencido de que, na capital do jogo de Nevada tudo é possível, o diretor Roberto Santucci não apenas convocou Jerry Lewis para ser o mensageiro do hotel em que se hospedam Hassum e Camila Morgado, como providenciou um papel para Anderson Silva. Uma pena que a estreia do filme, na sexta passada, tenha coincidido com o massacre do lutador no sábado. Teria sido muito melhor iniciar 2014 festejando a vitória de Anderson. Pergunte a nove e até 11 entre dez críticos – todos vão descartar Última Viagem a Vegas como a versão sênior de Hangover, ou Se Beber, Não Case. Outra história de amigos, mas agora eles são quatro coroas que vão a Vegas para o casamento de um amigo (um deles). As coisas não saem tão desastrosas como na série de comédias estrelada por Bradley Cooper. E, no fundo, por descartável que seja – e é –, Última Viagem guarda certo charme. Não se deve subestimar o que quatro – aliás, cinco – vencedores do Oscar podem agregar a um roteiro, por mais sentimental (ou previsível) que seja. Última Viagem começa em 1955, com quatro amigos – que compõem um grupo chamado de ‘The Flatbush Four’. Passam-se 58 anos e os garotos de outrora formam agora um bando de idosos. Morgan Freeman sofreu um infarto e o filho trata dele como uma criança. Kevin Kline, aparentemente, está bem, mas sua vida está minada pelo sentimento de insatisfação. De Niro ficou viúvo, e se retraiu. Michael Douglas, o mais bem sucedido do quarteto – é milionário –, vai se casar de novo. A noiva tem menos que a metade da sua idade – 30 anos –, mas o filme não perde tempo com ela. O que importa são os idosos. E Las Vegas. O filme começa e termina em outros lugares, mas no miolo o que importa é a relação dos quatro amigos entre eles e com a cidade. Las Vegas, uma miríade no deserto, é a prova de que o sonho é possível, e como tal é utilizada pelo diretor Jon Turtletaub e pelo roteirista Dan Fogleman. Para sublinhar o retorno à vida dos quatro – até do solitário e irritadiço De Niro –, eles criam a quinta personagem dessa história, a cantora Mary Steenburgen, que canta de verdade. Todos ganharam Oscars – Robert De Niro, os de melhor ator e melhor coadjuvante, por Touro Indomável e O Poderoso Chefão – Segunda Parte; Michael Douglas, melhor ator, por Wal Street – Poder e Cobiça; Kline, Freeman e Mary Steenburgen os de melhor coadjuvante, por Um Peixe Chamado Wanda, Os Imperdoáveis e Melvin e Howard. Num filme que não se destaca pela densidade, Mary é agraciada com as melhores falas, que conseguem dar certa substância à sua personagem de mulher de negócios que realiza o sonho de ser cantora, e não desiste de encontrar um homem que compartilhe emoções, sentimentos e (por que não?) sexo com ela. Elas não perde o foco – e diante de uma reação infantilizada de Kline lhe diz na lata que ele talvez “não esteja sendo charmoso como acha”. Já que o filme não ousa – não! –, o máximo de risco que o diretor, o roteirista e seu elenco correm é a cena de Morgan Freeman dublando September, de Earth, Wind & Fire. Se Beber, Não Case pode ter sido o modelo recente de Last Vegas, mas espectadores com mais cancha vão se lembrar da série Dois Velhos Rabugentos, com Jack Lemmon e Walter Matthau. Pois é, disso que nasce o humor, na parte do tempo, da rabugice dos velhos. De Niro e Douglas ainda se estranham por causa da mulher que preferiu o primeiro. Com atores tão bons, você poderá até não querer, mas terminará ligado na ‘história’. 

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