Van Sant explora alienação juvenil em 'Paranoid Park'

Longa, que estréia nesta sexta, rendeu ao cineasta o Prêmio Especial de 60 Anos do Festival de Cannes

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Por Alysson Oliveira e da Reuters
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Poucos cineastas, em especial nos Estados Unidos, dissecam tão bem os dilemas da adolescência como Gus Van Sant (Gênio Indomável, Elefante), cujo novo filme, Paranoid Park, estréia na sexta-feira, 25, no país. Veja também: Trailer de 'Paranoid Park'  Paranoid Park rendeu a Van Sant o Prêmio Especial de 60 Anos do Festival de Cannes, em maio. Em 2003, no mesmo festival, o cineasta levou os prêmios máximos, a Palma de Ouro e o de direção por Elefante. Não são apenas os prêmios que os dois filmes têm em comum. Ambos dissecam a alienação juvenil e suas consequências. Porém, se no passado o diretor explorou uma tragédia de grandes proporções, aqui ele a busca no nível pessoal - com resultado não menos devastador. Alex (o estreante Gabe Nevins) envolveu-se involuntariamente numa tragédia. Por causa disso, parece se esconder num estado de negação e alienação. Como que para se livrar da culpa, passa horas escrevendo, contando a sua história a um possível interlocutor. Van Sant poderia estar explorando a ambiguidade moral do personagem, mas o objetivo do diretor é mais complexo. A opção por montar as cenas fora de uma ordem cronológica faz com que Paranoid Park mergulhe no estado de espírito de Alex, ao invés de esclarecer fatos ou simplesmente contar uma história. É como se os acontecimentos fossem contados seguindo o fluxo de consciência do protagonista, o que torna o resultado mais eficiente do que se fosse apresentado na ordem direta. São momentos de medo e paranóia que consomem a mente do rapaz de 16 anos. O parque do título é um lugar onde os skatistas se encontram. Embora seja apaixonado pelo esporte, Alex é inseguro de suas habilidades, o que eleva Paranoid Park a um patamar quase mítico, inatingível para ele, que passa horas apenas observando os outros garotos mais experientes com o skate. Deslocado em seu próprio mundo dos skatistas, em sua escola, em seu pequeno círculo de amigos e em sua família, Alex é simplesmente uma daquelas pessoas que não conseguem se encontrar, por isso passa muito tempo sozinho. Nem em seus breves encontros com a namorada (Taylor Momsen, de Pequenos Espiões 2), o garoto é capaz de se conectar verdadeiramente. Quando ele termina o romance abruptamente - pouco depois de terem sua primeira relação sexual -, o rapaz encontra apoio na amiga Macy (Lauren McKinney), que parece ser a única pessoa a perceber que há algo de errado consumindo Alex. É ela quem sugere que ele escreva sobre a grande dor que está sentindo. Com roteiro assinado por Van Sant, baseado num romance de Blake Nelson, Paranoid Park é um retrato honesto de uma juventude para a qual a apatia parece ser a única solução. Diferente de outros diretores que trabalham personagens na mesma faixa etária - como Larry Clark (Kids) -, Van Sant não emite julgamentos, mas explora estados emocionais e como esses afetam a vida das pessoas e o mundo ao seu redor.

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