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Van Damme volta às telas com "Replicante"

O ator que veio ao Brasil divulgar seu filme vive um serial killer e seu clone. O replicante é criado a partir do DNA do serial killer. A idéia da polícia é usar esse segundo para chegar ao criminoso. Mas é uma convivência difícil

Por Agencia Estado
Atualização:

Jean-Claude Van Damme bem que tentou. Na coletiva realizada no sábado à tarde, no Hotel Meliá, o astro das artes marciais que veio ao Brasil promover o lançamento do seu novo filme, Replicante, fez questão de anunciar que havia terminado com as drogas e as mulheres. "Não faço mais sexo", disse. Na verdade, usou uma palavra mais forte que começa com F. "Agora faço amor." Isso é o que ele achava. No domingo, Van Damme teve uma recaída e protagonizou cenas de baixaria explícita com a rebolativa Gretchen no Programa do Gugu. Pobre Van Damme. Mais uma semana no Brasil e ele precisará de nova internação para se desintoxicar. Logo após a coletiva, Van Damme recebeu o repórter do Estado para uma individual. Está orgulhoso do filme que estréia hoje. Replicante assinala uma sensível melhora do astro. Dá de 10 em Inferno, que o próprio Van Damme concorda ser, possivelmente, o ponto mais baixo de sua carreira - apesar da direção de John G. Avildsen, vencedor do Oscar por Rocky, um Lutador e que fez depois a série do Karate Kid -, e também é melhor que A Colônia, embora esse último tenha direção de Tsui Hark, um dos diretores top de linha do cinema de ação de Hong Kong. Foi lá que Van Damme buscou Ringo Lam, que assina Replicante. É o segundo filme que eles fazem juntos. O primeiro foi Risco Máximo. E, além desses dois, Van Damme também apadrinhou a carreira de John Woo no cinema americano, chamando-o para dirigir O Alvo. Nega que tenham brigado como cão e gato durante as filmagens, mas admite que teve de remontar a versão de Woo para satisfazer os distribuidores e exibidores dos EUA, que achavam o director´s cut muito longo. Acrescenta que tem planos de voltar a filmar com Woo. Estão em fase de negociação. Credita a si mesmo, pelo menos em parte, o insucesso de Tsui Hark em Hollywood. O diretor que Positif e Cahiers du Cinéma reverenciam - a primeira revista considera Era uma Vez na Ásia uma obra-prima, o que o filme é, de fato - foi prejudicado pelo roteiro sofrível de A Colônia". Para Ringo Lam, só tem elogios. "Ele foi muito duro, muito exigente comigo, mas tenho de agradecer-lhe, porque, pela primeira vez na vida, senti-me um ator e não apenas um lutador." Acrescenta que o público das pré-estréias realizadas nos EUA achou a mesma coisa. "Nos questionários preenchidos após a projeção, os espectadores me deram um up-grade", diz. Ele passou da categoria 5 para a 4 e alguns até lhe deram 3. O 5 é aplicado aos piores atores, o 1 é o máximo. Van Damme ainda está longe e talvez nunca chegue lá. Aliás, vamos ser honestos, não vai chegar lá - como ator, pelo menos -, mas melhorou e isso é o que importa. Mais uma vez, depois de Duplo Impacto e Risco Máximo, ele interpreta dois papéis. Nos outros filmes, eram gêmeos. Em Replicante, é um serial killer e seu clone. O filme começa de forma um tanto surpreendente para os fãs do astro. O primeiro a entrar em cena é o Van Damme "do mal". Sem motivo aparente, ele entra numa casa, mata uma mulher e põe fogo no corpo dela. Segue-se um tiroteio e perseguição, com o policial interpretado por Michael Rooker nas pegadas do vilão. Rooker é, ele próprio, outra surpresa de Replicante. Ele foi o serial killer de Henry, Retrato de um Assassino, o cult de John McNaughton. Dá uma guinada e faz agora o herói. A dupla inversão - Van Damme do mal, Rooker do bem - parece uma ironia, mas o astro diz que não tem nada a ver com isso: "Foi idéia do produtor." O vilão, de qualquer maneira, é o primeiro a entrar em cena em Replicante. Só depois surge o personagem-título. O replicante é criado a partir do DNA do serial killer. A idéia da polícia (e de Rooker) é usar esse segundo para chegar ao criminoso. Mas é uma convivência difícil. Rooker acha que o replicante poderá voltar-se contra ele. Agride-o brutalmente quando acredita que o clone atacou seu filho. Não é verdade, mas o replicante se ressente da brutalidade do parceiro. "Os dois personagens são o yin e o yang", filosofa Van Damme. "Representam as duas partes que convivem em qualquer pessoa, o bem e o mal." Amplia o raciocínio e diz que, ele próprio, ao envolver-se com drogas, achou que poderia enfrentar o mal, mas foi por ele vencido. Precisou de muita força para dar a volta por cima. Acha que a experiência pessoal ajudou-o muito a criar os dois personagens de Replicante. Ajudou-o, também, o fato de ser pai (de três filhos). O serial killer é um edipiano marcado pela ligação com a mãe megera. Vinga-se matando mães que considera agressoras dos próprios filhos. O ex-policial (Rooker aposenta-se logo no começo da ação) também é pai. E o replicante oscila entre os dois, tendo de fazer uma escolha moral quando o serial killer o define como parte dele próprio, como sua família. Pode parecer bobagem e talvez seja mesmo, mas a trama é mais interessante, para não dizer mais consistente, que a de outros filmes recentes de Van Damme. A direção capricha nas cenas de ação. Ringo Lam não é John Woo, mas também sabe coreografar a violência. É o que Van Damme afirma. Por isso tem ido buscar esses diretores em Hong Kong. "Eles possuem um domínio da ação, do timing das artes marciais que escapa aos diretores de Hollywood." E há mais - como belga, não dominando perfeitamente o inglês, ele passou maus momentos no cinema americano. Foi marginalizado, senão realmente hostilizado. A busca de alternativas aos diretores do cinemão foi uma necessidade. Criou com Ringo Lam, a coreografia das cenas de lutas. "Ringo sabe onde e como colocar a câmera, sabe me fazer lutar para ela." Destaca também a contribuição do seu treinador pessoal, que o acompanhou na viagem ao Brasil. Treina muito, diariamente. Acha que está bem, fisicamente, mas concorda que o personagem "detonado" de Inferno talvez fosse, mesmo que de forma inconsciente, uma forma de justificar a forma física, numa época em que estava mal mas precisava continuar produzindo. Diz que o mais difícil para um astro de ação é conseguir bons roteiros. "As boas histórias estão cada vez mais difíceis." Dos demais heróis de ação, prefere Arnold Schwarzenegger. "Somos amigos", diz. Do Brasil vai a Cannes para vender o próximo filme, The Monk. "Segue a trilha de Matrix; será um filme de artes marciais em que as lutas serão mentais", explica. Está animado. Acha que Replicante o recoloca na tela. Espera que seu fiel público no Brasil perceba isso.

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