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Vaias para o filme mais esperado de Veneza

Twentynine Palms, do francês Bruno Dumont, foi recebido com vaias implacáveis, performance parecida com a de Brown Bunny, do americano Vincent Gallo, campeão absoluto de vaias em Cannes

Por Agencia Estado
Atualização:

Um dos filmes mais esperados do 60.º Festival de Cinema de Veneza, Twentynine Palms, do francês Bruno Dumont, foi recebido com vaias implacáveis e risos fora de hora pela platéia de Veneza, na exibição de ontem. O filme, ambientado nos entornos do povoado californiano que lhe dá título, põe em cena um casal em aparente fricção consigo mesmo e com o meio ambiente. Ele, um fotógrafo americano em busca de locações; ela, uma russa que não fala inglês. Eles se comunicam num francês rudimentar, andam pelo deserto, brigam e transam, à beça. Só isso - até que venha um desfecho tão sangrento quanto surpreendente. Mas, a esta altura o filme já havia perdido a cumplicidade do público. De fato, Dumont filma sobre "não acontecimentos" e essa era a característica do seu trabalho anterior, o maravilhoso A Humanidade. No entanto, apesar de continuar em seu caminho, algo de muito sério se perde nesse novo filme. Bruno Dumont continua indócil nas entrevistas. Disse que não havia acompanhado a sessão e não podia comentar as vaias ou risos. Afirmou que não lhe importa contar uma história e que trabalha muito pouco com a razão ao fazer um filme. Interessa-lhe mais as impressões, o inconsciente, e assim espera que vejam seu trabalho. Não lhe interessa discuti-lo com palavras. Trata-se de uma opção de respeito, mas que implica uma contradição: o que estaria ele fazendo diante de uma platéia de jornalistas se acreditasse que não é possível falar a respeito do seu trabalho? Curiosamente, seu filme é muito parecido com Brown Bunny, do americano Vincent Gallo, campeão absoluto de vaias em Cannes. Dumont disse que não conhece o filme de Gallo. Um jornalista generoso tentou uma aproximação com Zabriskie Point, de Michelangelo Antonioni, mas Dumont desconhece a obra do cineasta italiano. Fechou-se em sua disposição de não-diálogo e nela ficou. A coletiva terminou sob silêncio sepulcral, com a platéia desanimada de fazer mais perguntas e o moderador não conseguindo mais preencher vazios cada vez mais ostensivos.

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