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Uma nova caça às bruxas ronda Hollywood

Depois das denúncias de astros como Sean Penn e Martin Sheen, foi a vez do sindicato de atores revelar a existência de "listas negras" para boicotar aqueles que se opõem a um ataque ao Iraque, à maneira do macarthismo do pós-guerra

Por Agencia Estado
Atualização:

Primeiro, a cantora canadense Sheryl Crow revelou que houve "orientação" na festa de entrega do Grammy para que os artistas não fizessem menção à iminente guerra entre Estados Unidos e Iraque. Ela teve de tirar uma inscrição de sua guitarra para entrar em cena. Esta semana, foi o Sindicato dos Atores de Cinema dos Estados Unidos (SAG) que se manifestou. Segundo o sindicato, estão sendo criadas "listas negras" com nomes de atores que se pronunciaram abertamente contra uma guerra com o Iraque, reeditando a célebre "caçada às bruxas" da era macarthista, há cerca de 50 anos. Depois da 2.ª Guerra, a Comissão de Atividades Antiamericanas iniciou, no dia 20 de outubro de 1947, uma série de interrogatórios para desmascarar um suposto complô comunista nos Estados Unidos. Criou-se uma lista negra, que deixou sem trabalho centenas de roteiristas, diretores e atores nos anos 50. Seus efeitos foram sentidos até a década de 60, arruinando carreiras e forçando muitos atores e roteiristas ao exílio. Para sobreviver, alguns roteiristas passaram a assinar seus trabalhos com pseudônimos. Desde 1986, a Associação dos Roteiristas dos Estados Unidos tenta restabelecer os direitos dos verdadeiros autores dos roteiros de 34 filmes, entre eles A Ponte do Rio Kwai, Lawrence da Arábia e Pancho Villa. "Nosso setor compreende talvez melhor que os outros a necessidade de defender esses direitos, pelos quais houve americanos que lutaram e morreram", diz comunicado da SAG, que representa 90 mil atores nos Estados Unidos. A reedição da "lista negra" deixou o cinema de cabelo em pé. A SAG disse que há "recomendações" para que os estúdios e os produtores punam os artistas que se manifestarem publicamente contra a posição americana no Iraque. O pior é que eles são muitos: o diretor Oliver Stone, os atores Sean Penn, Susan Sarandon, Martin Sheen, Penélope Cruz, Edward Norton, Alec Baldwin e Mike Farrell, entre outros. Alguns dos casos mais recentes são de Sheen e Penn. Sheen, que interpreta o presidente dos EUA em The West Wing, recentemente denunciou que altos executivos da rede NBC disseram estar "muito inconfortáveis" com sua aberta oposição à guerra com o Iraque. De qualquer forma, Sheen não se perturbou. Ele estrela um comercial, que vai ao ar na própria NBC, em que diz: "Inspeção de armas funciona; guerra, não". A mesma emissora veicula também um anúncio favorável à guerra com o ex-senador Fred Thompson, que estrela o programa Lei & Ordem, em que diz: "Graças a Deus temos um presidente que tem coragem de proteger nosso país". Já Sean Penn, que recentemente esteve em Bagdá, em visita a um hospital para crianças, entrou com um processo acusando o produtor Steve Bing de ter suspenso um contrato para um futuro filme chamado Why Men Shouldn´t Marry, pelo qual receberia US$ 10 milhões. A razão, segundo Penn, é sua oposição à guerra. Bing nega e decidiu entrar com uma ação contra o ator. Apesar das pressões, os artistas continuam manifestando-se contra a possibilidade da guerra. No fim de fevereiro, os músicos Jay-Z, Nas e Sheryl Crow fundaram a associação Musicians United to Win without War, como forma de pressionar o governo americano a recuar na sua decisão de ataque ao Iraque. A associação conta com o apoio de músicos como Lou Reed e David Byrne e tem adesões de outros como Missy Elliot, Mos Def, Natalie Imbruglia e OutKast. Outro que está numa cruzada incessante contra a guerra é o vocalista do grupo irlandês U2, Bono Vox. Mas ele evita parecer um apoiador do governo de Saddam Hussein. Bono chegou a dizer que o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, estava "sinceramente equivocado" sobre o apoio à política americana.

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