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'Uma Canção é Para Isso' une o barroco brasileiro ao universo de Bach

Filme tem locações em Ouro Preto e na cidade alemã de Bückeburg

Por Flavia Guerra
Atualização:

 Quando, em 2004, o diretor e roteirista alemão Ansgar Ahlers chegou a São Paulo para apresentar seu curta Wedding Daydream, no Festival Internacional de Curtas, ficou tão maravilhado com a cidade que decidiu que teria de filmar uma história no Brasil. E assim nasceu Taxi to Daydream, de 2006.

 

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 No curta, que foi exibido no Festival de Berlim, Ahlers constrói uma curiosa ponte entre São Paulo e a cidade alemã de Kiel. “Nessa história, revelam-se contrastes entre duas culturas diferentes, mas complementares”, comentou o diretor, durante uma pausa nas filmagens de seu primeiro longa-metragem: Uma Canção É para Isso. Não é de se estranhar que o filme, coprodução entre a brasileira Conspiração Filmes e a alemã Neuer Film Produktion tenha sido justamente filmado no Brasil, precisamente em Ouro Preto.

É na cidade mineira onde se passa o drama de Marten, um professor de música alemão que vem parar por acaso na cidade mineira. Vivido por Edgar Selge (de A Experiência), um dos atores mais prestigiados e premiados da Alemanha, ele recebe uma herança de um velho amigo: uma partitura original de um dos filhos do mestre Johann Sebastian Bach, que havia sido perdida há dois séculos e reapareceu no Brasil.

“Pode parecer surreal, mas há base histórica nisso. Conversei com o Arquivo Bach e eles encontraram a última partitura original de Bach em 2009. E seria crível que uma das partituras dele fosse parar no Brasil. Mas decidimos criar a história a partir do filho caçula de Bach, que viajou de fato para a América do Sul e que poderia ter trazido esta partitura com ele”, contou o diretor.

Na trama, apesar de Marten ter planejado uma viagem de três dias para buscar o tesouro no Brasil, um incidente acontece e ele acaba tendo de passar meses em Minas. “Por sua herança barroca, Ouro Preto era a cidade ideal”, afirmou Ahlers. Após perder tudo no roubo, Marten é ajudado pelo brasileiro Candido (Aldri da Anunciação), que foi criado por uma família alemã e entende o idioma, apesar de fazer algumas confusões e ‘traduções livres’.

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Cândido trabalha em um centro de recuperação de jovens e, em troca de ajuda para encontrar a partitura, convence Marten a dar aulas de música para os garotos. “O professor, que antes tinha detestado a ideia, apaixona-se pelos meninos, passa a misturar a música de Bach com ritmos brasileiros, como o chorinho e o batuque. Estava acomodado, mas a experiência o transforma”, comentou o produtor alemão Clemens Schaeffer.

Para melhorar, após conseguir o apoio da juíza da Justiça (vivida por Marília Gabriela), conseguem financiamento para se apresentar em Bückeburg, na Alemanha. “É uma cidade que tem arquitetura e cultura barrocas, como Ouro Preto. As sequências rodadas lá ficarão incríveis”, revelou Scheffer.

Foi justamente a cena em que Marten e as crianças tocam para a juíza que o Estado acompanhou há duas semanas. Na igreja do Pilar, centenas de figurantes participavam do primeiro filme rodado na cidade mineira desde Luar Sobre Parador (com Sônia Braga, em 1998).

Em tempo, Uma Canção estreia em 2015 e sua trilha sonora está a cargo do músico e arranjador Henrique Cazes, que também é mestre no cavaquinho. O filme vai trazer justamente as maiores composições de Bach em versões para choro, jazz e batucada. “É o símbolo da união do rigor alemão com a melodia e o ritmo brasileiros, tanto na forma de viver quanto de fazer música. Quero mostrar isso ao mundo. Para completar, a canção tema é do Skank, que tem o mesmo nome do filme”, concluiu o diretor.

 

 

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"Atuar é um exercício de sanidade", diz Marília Gabriela

Você tem um papel afetivo em Uma Canção é para Isso. Como foi a experiência? Foi ótima. Já atuei em seis ou sete filmes e aprendi a gostar muito de filmar. Hoje atuei ao lado do Edgar Selge (Marten) e do (Stepan Necerssian, o diretor do Centro da Juventude). e das crianças. Ainda que só por um dia, aprendi muito.

A pergunta já é clássica, mas como é, mais uma vez, atuar? É uma sorte. Me dei esta oportunidade. Acho que todos nós podemos fazer mais do que fazemos na vida. E fui explorar as áreas com que sempre me identifiquei. Fui cantar. E demorei muitos anos para aceitar um convite para atuar. Comecei na universidade, mas parei e entrei na Globo, que é muito rígida em relação a seus profissionais, o que compreendo. Comecei a receber propostas mas sempre disse não. Quando fiz 50 anos, recebi um convite do Gerald Thomas e disse: Por que não? Ser atriz é um facilitador de botar para fora todas as pessoas que temos dentro de nós. E sem julgar. Porque aparentemente estamos fazendo outra pessoa. Se confrontar com nossos demônios e seres. Atuar é um exercício de sanidade. É uma forma de nos tornarmos mais humanos, compreender e aceitar melhor as pessoas que, num julgamento precipitado não vamos entender. Quando a vivemos, entendemos melhor. E até hoje estou fazendo. Mas não quero abandonar nada na minha vida. Insisto em que é possível diversificar na vida. Dá para fazer tudo com aplicação. Acabei de fazer uma série para o GNT. E estou para fechar um papel em uma nova peça.

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O jornalismo você acha que é também um exercício de entender e não julgar o outro?

Fundamentalmente. Por isso que fico sempre muito indignada quando alguém se ofende com pessoas que eu entrevisto, achando que eu estou entrevistando pessoas menores. Todo mundo que senta na minha frente, que aparece, tem motivos e uma razão muito evidente para estar lá. Ninguém é pop à toa. O cenário pop atual e contemporâneo merece respeito. Agora, que entrei na rede social, fico assustada em ver como as pessoas podem ser crueis e mesmo ignorantes, para não perceberem que todo mundo merece o que consegue. E merece respeito. Por isso, gosto de entrevistar todo tipo de gente.

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Você afirmou que não há pessoa específica que gostaria de entrevistar, mas todo mundo.

Sim. Sempre. Descubro outros lados da humanidade e pretendo que as outras pessoas percebam a mesma coisa que eu naquele momento. Ando em crise de identidade e acordei outro dia pensando em que raio de pessoa sou eu. Usei isso para botar algumas ideias no papel. Talvez consiga descobrir pela primeira vez na minha vida em quem é que eu resultei a esta altura do campeonato. Depois de tantas coisas que vivi desatentamente, tão atabalhoadamente, que não me percebi mudando. E agora, que estou ficando velha, resolvi fazer uma instrospecção e descobrir: Afinal, quem sou eu? Porque tudo que leio a meu respeito tem coisas surpreendentes. Digo: ‘Essa sou eu?’. Há julgamentos, análises. E são muito diversas. E eu fico assim: ‘Sou. Não sou.’ E me olhando no espelho me perguntei: ‘Quem é?’. Então agora estou pensando em mexer aqui dentro.

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