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Um "Conde de Monte Cristo" à antiga

Nova adaptação do romance de Alexandre Dumas lembra os filmes de ação de Hollywood produzidos entre as décadas de 30 e 50; tem ritmo ágil e rende uma boa sessão vespertina

Por Agencia Estado
Atualização:

Ver O Conde de Monte Cristo é como viajar numa máquina do tempo. Não até os começos do século 19 em que se situa a ação. Mas até os anos 30, 40, 50 de Hollywood, quando filmes semelhantes eram comuns na produção rotineira dos estúdios. Aliás, um deles é considerado a melhor versão do livro de Alexandre Dumas para o cinema, estrelado por Robert Donat. Depois tais filmes rarearam. Tanto que O Conde de Monte Cristo parecerá, aos não-iniciados, cheio de idéias novas e sacadas originais. Não é, mas conta razoavelmente a história, desde que não se compare o filme com o livro de Dumas, este sim cheio de idéias novas e sacadas originais que empolgam todos os que se deparam pela primeira vez com as aventuras de Edmond Dantès. Dantès é o herói do livro e do filme. Encarnado por Jim Caviezel ele é frágil demais para, por exemplo, agüentar 13 anos numa masmorra do Château d?If. Mas, quando se transforma em Conde de Monte Cristo, é adequadamente misterioso. Não tem de interpretar, basicamente, e se sai bem nas cenas de luta habilmente coreografadas. Surge como um marinheiro plebeu, que é traído pelo falso amigo nobre Fernand Mondego (Guy Pearce, exagerado na força que faz para ser um vilão convincente e ainda tendo de superar roupas com plumas demais em lugares errados). Este consegue fazê-lo prender por traição, rouba-lhe a noiva Mercedes (a bela Dagmara Dominczyk), a quem dissera que Dantés morrera. O herói vai parar na prisão (cenas feitas em Malta), onde ele fica remoendo idéias de vingança e sentindo o cabelo crescer. Um dia, surge no meio da cela, vindo do chão, uma cabeça também cheia de cabelos. É a do Abbé Faria (Richard Harris), que cavou um túnel que, por um erro de cálculo, não foi parar na parede exterior da cadeia. Sorte de ambos que, entre um ou outro rato no espeto, se dedicam à tarefa de educar Dantès. Ele aprende a ler, a escrever, a lutar, a filosofar segundo Maquiavel e Adam Smith. Eles unem forças para cavar o túnel, desta vez na direção certa. Faria, esgotada sua função na trama, morre, e Dantès foge, embrulhado na mortalha que serviria ao outro. Começa o ato da vingança. Dantès, que recebeu de Faria uma última mãozinha, um tesouro fabuloso, providencia que todos os que lhe fizeram mal sofram bastante. Mas o amor derrete o ódio e ele perdoa Mercedes, aliás, condessa Mondego, cujo filho -- já que se trata de uma aventura romântica -- era na verdade de Dantès. Ele aparece rico, misterioso, onipresente e enigmático. Inferniza a vida de Mondego até o duelo final. A maior surpresa é um filme de ritmo tão ágil ter sido feito pelo mesmo Kevin Reynolds de Waterworld, aquela lenta tartaruga marinha. O Conde de Monte Cristo merece aquilo para que foi feito: ser programado para sua próxima sessão da tarde no cinema.

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