Um camaleão espanhol na briga pelo Oscar

Javier Bardem é daqueles atores que mudam física e emocionalmente a cada papel. Vide sua atuação como o escritor Reinaldo Arenas, em Antes do Anoitecer

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Por Agencia Estado
Atualização:

Para interpretar o papel do escritor cubano Reinaldo Arenas no filme Antes do Anoitecer, o ator espanhol Javier Bardem aprendeu a andar como ele, falar com seu sotaque cubano e beijar um homem como se realmente gostasse. Mas a preparação não pára por aí. Em uma tarde quente no México, antes de as filmagens começarem, ele se dispôs a aprender também datilografia. Digitando a mensagem "ajude-me" com apenas dois dedos, ele iniciou uma carta ao próprio Arenas, tentando mergulhar no coração do escritor. "Eu não conseguia entender, quando estava lendo o trabalho de Reinaldo ou estudando o roteiro, por que uma pessoa precisa escrever", disse Bardem com forte sotaque. "O que ele está procurando quando escreve? Para quem ele escrevia `estou com dor´, `escrevo porque preciso de vingança´ etc.? Para ele mesmo, para Deus, para o os leitores? Eu comecei a escrever poemas e cartas todos os dias, contando a ele minha experiência, pedindo ajuda. Quando eu apareço escrevendo durante o filme, escrevo para ele". A performance de Bardem no filme de Julian Schnabel, baseada na memória da doença (Aids) ditada como a grande destruidora pelo próprio Arenas em Nova York, não só o levou a uma indicação ao Oscar por melhor ator como também o transformou no primeiro espanhol a receber uma indicação. Bardem, que completa 32 anos na quinta-feira, fez algumas dezenas de filmes na Espanha, onde ficou conhecido em 1992, com o filme Jamon, Jamon, de Bigas Luna. Nos EUA, sua grande aparição foi em Live Flesh, de Pedro Almodóvar, em 1997, onde interpretou o papel de um policial paraplégico. Mas Antes do Anoitecer, sua segunda atuação em língua inglesa, foi o que o lhe deu notoriedade internacional e rendeu indicação ao Glodo de Ouro e o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza, em setembro passado. Os murmúrios começaram a aumentar na Espanha quatro dias após sua indicação ao Oscar. Taxistas gritavam da janela "ganhe o Oscar!", fãs o assediavam nas ruas, os paparazzi o esperavam na porta de casa em Madri. Até o rei Juan Carlos o convidou para jantar. Essa perseguição nos levou, numa sonolenta tarde de sábado, a seu esconderijo, num consultório de uma médico amigo em Barcelona. Bardem nunca tinha cogitado tanta fama em seu próprio país, mas acabou se transformando num grande sucesso comercial. Mas parece um pouco incomodado com tanta excitação. "É como estar jogando futebol na segunda divisão e alguém vem e te transfere para a primeira."

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